
Ricardo Assunção, Médico Veterinário, Investigador do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Vivemos tempos de mudança, profunda, acelerada e, por vezes, desconcertante. Mudámos, por exemplo, a forma como trabalhamos e como comunicamos. E nem todas essas mudanças acontecem por mero acaso: algumas (muitas) dependem de decisões conscientes. A forma como nos alimentamos é uma delas. E essa mudança nem sempre tem acontecido na direção certa. Enquanto enfrentamos desafios globais como as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e o aumento da prevalência de doenças crónicas, torna-se cada vez mais evidente que os sistemas alimentares, desde a produção até ao consumo, exigem uma transformação urgente e profunda.
Os alimentos que colocamos no prato não afetam apenas a nossa saúde, têm impactos significativos sobre o ambiente e sobre a sociedade. Os sistemas alimentares têm uma pegada ambiental considerável, e em simultâneo, a má alimentação é um dos principais fatores de risco da carga global de doença, contribuindo, desta forma, para milhares de mortes evitáveis todos os anos.
Perante esta dupla crise, saúde e sustentabilidade, a evidência científica é clara: é urgente transitar para dietas saudáveis e sustentáveis, que segundo a FAO e a OMS, devem promover a saúde, ter um baixo impacto ambiental, ser acessíveis, economicamente justas e culturalmente aceitáveis.
Mas, a questão que se impõe é: como concretizar esta transição? A resposta passa por tomar decisões alimentares informadas, tendo por base evidência científica que integre, de forma holística, as diferentes dimensões envolvidas, nomeadamente a saúde, o ambiente, a economia e a sociedade. Naturalmente, dada a complexidade dos desafios, não existem soluções únicas. A transição alimentar requer compromissos coletivos, políticas públicas baseadas na ciência, inovação no setor agroalimentar e, sobretudo, capacitação dos vários intervenientes, incluindo os consumidores, para escolhas alimentares conscientes e responsáveis.
Cada decisão conta! Alinhar os nossos hábitos alimentares com o padrão da dieta mediterrânica, privilegiar produtos sazonais, ou reduzir o desperdício alimentar, são exemplos concretos com um impacto real.
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), através do seu Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN), tem assumido um papel ativo nesta missão. Destacam-se, por exemplo, projetos de investigação como é o caso do projeto ALTERNATIVA. Este projeto, financiado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), desenvolveu uma metodologia inovadora para integrar saúde e sustentabilidade na avaliação de alimentos e padrões alimentares, em colaboração com outras instituições científicas europeias.
Monitorização da ingestão de aditivos alimentares em Portugal
Complementarmente, o DAN promove a disseminação de conhecimento e a capacitação dos profissionais do setor através de várias iniciativas, nomeadamente, o 12.º Simpósio Nacional “Promoção de uma Alimentação Saudável, Segura e Sustentável – SPA_3S 2025”, que será dedicado ao tema “Promoção de ambientes salutogénicos no local de trabalho”; o webinar “A sustentabilidade alimentar na infância: um contributo para escolhas saudáveis e conscientes”; e o curso “Sustentabilidade dos Sistemas Alimentares”. Todas estas iniciativas refletem o compromisso do INSA na promoção de ferramentas e conhecimento que permitam a adoção de escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis.
Num tempo em que os limites planetários são ultrapassados e os sistemas de saúde estão sob crescente pressão, escolher melhor o que comemos é um investimento na nossa saúde, no futuro das próximas gerações e na saúde do planeta.