Como abordar a obesidade em consulta? 871

Ter excesso de peso representa muito mais do que um número numa balança, não sendo resultado exclusivo de escolhas individuais. Mas mesmo assim as pessoas com obesidade são frequentemente vistas como gulosas, preguiçosas, desleixadas ou sem autocontrolo, tornando-se vítimas de preconceito dentro e fora do seu círculo familiar. Combater o estigma e garantir um tratamento digno e eficaz para todos desde o primeiro momento é o caminho a seguir, alertam os especialistas.

Para combater o estigma existente e proporcionar o tratamento adequado à pessoa com excesso de peso ou obesidade é preciso encarar a obesidade como doença multifatorial que é. Para isso, partilha a nutricionista Carla Pedrosa, “é importante promover a formação dos profissionais de saúde na área da obesidade, no que concerne à etiologia, fisiopatologia e tratamento desta patologia, e instituir uma abordagem multidisciplinar e integrada, com foco na melhoria do estado de saúde do indivíduo”.

E isso, de acordo com as especialistas, começa por saber como promover conversas positivas e não culpabilizantes com as pessoas que vivem com obesidade. Por se trata de um assunto sensível e difícil de falar em consulta, a psicóloga e professora da Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação da Universidade do Porto Eva Conceição diz que o profissional de saúde deve começar por “perguntar se a pessoa quer abordar o tema e respeitar a sua decisão, garantindo que a conversa ocorre num ambiente de respeito e empatia”, procurando diminuir dessa forma uma possível resistência ao assunto.

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Em seguida, e mediante a disponibilidade do utente para ouvir e participar do diálogo, Carla Pedrosa aconselha o profissional a “abordar outras questões, nomeadamente relacionadas com possíveis opções terapêuticas, como por exemplo: ‘Podemos ver que opções de tratamento seriam mais dirigidas a si ou com que se sentisse mais confiante?’, ‘O que pensa sobre isto?’, ‘Considera esta informação útil?'”.

Sobre esta questão, Eva Conceição lembra ainda que “os profissionais devem oferecer diferentes opções de tratamento, discutindo com a pessoa qual a abordagem mais adequada para iniciar, sempre numa perspetiva colaborativa e não prescritiva”.

No decorrer da conversa é também importante chegar a um consenso com o utente e definir objetivos válidos e atingíveis, tendo o cuidado de não promover expectativas demasiado altas, nem de descurar a comunicação não-verbal. “É fundamental que o utente se sinta compreendido, sinta que foi ouvido e que o profissional de saúde (seja o médico, nutricionista, enfermeiro, psicólogo ou outros) o pretende ajudar”, assegura Carla pedrosa.

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Como o estudo ACTION IO revela, a pessoa com obesidade leva, em média, 6 anos para abordar pela primeira vez o assunto com o seu médico de família e 71% dos médicos não inicia a conversa sobre o peso porque acreditam que as pessoas com obesidade não estão interessadas em perder peso.

Adicionalmente, 68% dos inquiridos admite que gostaria que o seu médico iniciasse a conversa sobre o peso durante a consulta, o que demonstra a necessidade de uma melhor comunicação entre a pessoa com obesidade e o seu médico.

“Viver com o peso do preconceito” é o artigo de destaque da última edição da VIVER SAUDÁVEL, afeta aos meses de maio e junho, já disponível. Leia o artigo completo na Revista dos Nutricionistas.