Um adequado estado nutricional na pessoa idosa: um plano de ação até 2026 691

Por Maria João Gregório, diretora do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável e docente na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. 

 

O envelhecimento é um grande desafio em Portugal. Hoje, somos um dos países do mundo que apresenta um Índice de Envelhecimento mais elevado e as projeções colocam Portugal como o 4.º país a envelhecer mais rapidamente. Apesar disso, o aumento da esperança média não foi acompanhado por bons resultados para a qualidade de vida e bem-estar após os 65 anos.

Apesar da promoção do envelhecimento ativo e saudável se iniciar mesmo antes do nascimento e ser transversal a todas as fases do ciclo de vida, não deixa de ser importante identificar ações específicas e dirigidas para as pessoas idosas. Estas ações incluem, nomeadamente, a reorientação do sistema de saúde – para dar uma resposta mais adequada e ajustada às necessidades desta população – bem como a melhoria da qualidade das respostas sociais existentes.

Neste âmbito, a alimentação e a nutrição têm um papel fundamental. Por um lado, pela importância que a promoção de uma alimentação saudável tem para a promoção da saúde e prevenção da doença. Por outro, pelos ganhos para a saúde, qualidade de vida e bem-estar que a manutenção ou otimização de um estado nutricional adequado nas pessoas idosas podem representar.

Portugal lançou, há cerca de um ano, o Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável 2023-2026, uma estratégia que organiza as intervenções relacionadas ao envelhecimento para este período e enfatiza necessidade de promover um estado nutricional adequado na pessoa idosa. Este plano vai além de compromissos e recomendações internacionais. Apesar estar alinhado com os desafios da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), declarada pelas Nações Unidas, e de seguir as recomendações lançadas em 2021 pela Comissão Europeia, tem em consideração o contexto português e os seus desafios específicos.

Como não poderia deixar de ser, o plano contempla uma medida específica para “promover um adequado estado nutricional”. Estão previstas duas ações para dar resposta a esta medida: 1) Realização do rastreio nutricional nos Cuidados de Saúde Primários e 2) Promoção da otimização da oferta alimentar nas instituições que prestam apoio a idosos, nomeadamente através da atualização das orientações nos Manuais de Gestão da Qualidade das Respostas Sociais dirigidas para idosos.

A identificação destas duas ações baseia-se no facto da reorganização do sistema de saúde para a prestação de cuidados centrados na pessoa idosa, exigir uma melhor atenção ao estado nutricional da pessoa idosa sendo fundamental que a identificação do risco nutricional seja efetuada a toda as pessoas idosas nos cuidados de saúde primários. Aliás, esta medida está em linha com o Despacho n.º 9984/2023 que alarga a identificação sistemática do risco nutricional a todos os níveis de cuidados do Serviço Nacional de Saúde. Além disso, reflete o reconhecimento da necessidade de uma forte aposta na garantia da qualidade da alimentação que é fornecida pelas respostas sociais que apoiam as pessoas idosas.

Outra área fundamental deste plano de ação diz respeito à necessidade de uma aposta efetiva na formação e capacitação dos cuidadores formais e informais para uma melhor resposta na prestação de cuidados às pessoas idosas. A alimentação e a nutrição também não foram esquecidas no âmbito desta área de intervenção, estando prevista a realização de cursos de capacitação certificados para profissionais com funções operacionais na prestação de cuidados na temática da alimentação e nutrição, bem como de cursos de capacitação certificados para os cuidadores informais na temática da alimentação e nutrição.

A implementação destas medidas será enquadrada no âmbito Plano Nacional de Saúde 2030 e, em particular, no Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável 2022-2030. Será certamente uma oportunidade para os Nutricionistas contribuírem de forma significativa para um dos maiores desafios da atual década, contribuindo assim para aumentar a qualidade dos anos de vida ganhos acima dos 65 anos.