Recursos genéticos, agricultura familiar e saúde 892

A consciencialização da comunidade científica internacional para a necessidade de conservação dos Recursos Genéticos Vegetais (RGV) data dos inícios dos anos 60, assumindo a FAO um papel preponderante. Dada a sua importância vital e o facto de a redução da diversidade genética ser uma realidade cada vez mais atual, a conservação dos RGV com potencialidade de utilização imediata ou futura é uma prioridade estabelecida e reconhecida a nível mundial, nomeadamente através de Bancos de Germoplasma. A sua constituição procurava já contribuir para os processos de melhoramento genético em prol da adaptação às condições ambientais e exigências económicas e sociais das populações assim como para a diversificação das fontes de alimentos.

A crescente industrialização da agricultura em primeiro lugar mas também o aumento de catástrofes naturais associadas às alterações climáticas, a expansão das zonas urbanas e das fronteiras agrícolas entre outros, contribuíram para uma forte erosão da biodiversidade vegetal e para que a humanidade utilize, apenas, cerca de trinta variedades alimentares, entre as quais se destacam o arroz, o trigo, o milho e a batata que proporcionam 95% das calorias presentes na dieta humana (FAO, 2000). Concomitantemente a este processo e intimamente relacionado com o mesmo, verificou-se uma acentuada redução do número de agricultores familiares inseridos nas principais cadeias alimentares o que restringiu a conservação destes recursos “in situ”, ou seja, nos seus territórios de origem /uso.

Sabemos hoje que os recursos genéticos vegetais tradicionais são a base da subsistência da espécie humana e terão certamente um papel cada vez mais importante na segurança nutricional e na saúde dos seres humanos. Contribuem assim, de forma decisiva, para a possível mitigação das pandemias de doenças relacionadas com a alimentação e também para a redução da pobreza e resiliência dos agricultores familiares.

Em Portugal sempre houve uma grande variedade de recursos genéticos. Em vista da conservação e valorização dos mesmos foi criado em Braga, em 1977, o Banco Português de Germpolasma Vegetal (BPGV) com apoio da FAO e da Bioversity International, tendo por missão colher, conservar, caracterizar, avaliar, documentar e valorizar os recursos genéticos, assegurando a diversidade biológica e a produção agrícola sustentável atual e futura.

O BPGV, que assinalou recentemente o seu 40ª aniversário, acolhe coleções de germoplasma de RGV de todo o país bem como coleções de milho de países europeus e da Bacia do Mediterrâneo. Trata-se de um centro muito relevante para o futuro da agricultura familiar e da saúde dos portugueses. Por essa razão deve ser apoiado e crescentemente ligado aos produtores familiares em particular de sistemas agrários que sejam uma referência patrimonial para o país.

Francisco Sarmento,
Chefe do Escritório de Informação da FAO em Portugal e junto da CPLP

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