Atualidades em Ciência 634

«Que o teu remédio seja o teu alimento e o alimento o teu remédio» é umas das eternas frases de Hipócrates, pai da Medicina, que em muito contribuiu para a consciencialização da importância da dieta na manutenção e recuperação do estado de saúde.

Teoricamente todas as funções fisiológicas podem direta ou indiretamente ser influenciadas pelos alimentos que ingerimos, as funções cerebrais não são exceção.

Os flavonoides são compostos polifenólicos, presentes numa enorme variedade de hortofrutícolas e bebidas derivadas como vinho e chá. Sendo uma classe de compostos muito vasta, divide-se em várias subclasses de acordo com a sua estrutura química. Uma das classes que tem despertado um grande interesse pelo seu potencial neuroprotetor são as antocianinas, compostos presentes nos frutos vermelhos, e responsáveis pela sua cor.

Estudos epidemiológicos têm mostrado associação entre o consumo de alimentos ricos em flavonoides e um menor declínio cognitivo com a idade. Também em indivíduos de meia-idade se verificou a associação entre o consumo de flavonoides em geral, e das antocianinas em particular, e um melhor desempenho em testes cognitivos.

Num trabalho recentemente publicado pelo nosso grupo, em modelo animal, a exposição crónica a um extrato de antocianinas, obtido a partir de amoras, revelou ao nível cerebral efeitos protetores muito interessantes. Deste trabalho foi possível realçar dois resultados: (1) dietas ricas em gorduras e açúcares simples contribuem para o desencadear de processos inflamatórios a nível cerebral; a ingestão do extrato de antocianinas mostrou ser benéfica a contrariar esta neuroinflamação induzida pela dieta; (2) em animais alimentados com uma dieta equilibrada, a ingestão do extrato de antocianinas teve um efeito mais notório ao nível da modulação de proteínas relacionadas com a facilitação da plasticidade sináptica, isto é, com a forma como os neurónios comunicam entre si.

De uma forma geral, estes resultados impõem uma reflexão. Perder-se-á parte do potencial dos frutos vermelhos como neuromoduladores quando este é desviado para contrabalançar o efeito de uma dieta desequilibrada, como por exemplo de uma dieta rica em gordura e em açúcar?

O que se sabe com certeza é que a ação de determinado alimento vai sempre depender de variados fatores internos e externos. Um padrão alimentar variado e equilibrado, consumindo com moderação frutos vermelhos, e um estilo de vida saudável são determinantes para que o nosso cérebro possa funcionar na perfeição.

Porque ter um cérebro saudável depende de viver saudável!

Manuela Meireles,
Investigadora do IBILI, FMUC; colaboradora do ProNutri, CINTESIS

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