A alimentação e a nutrição numa instituição de saúde pública 641

Por Alexandra Bento, nutricionista especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública e coordenadora do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. 

 

Ao iniciarmos um novo ano é tempo de lembrar como as nossas atividades contribuem para a saúde dos portugueses. No Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN) do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) as ações têm sempre em vista a obtenção de ganhos em saúde pública.

Neste Instituto, que celebrou 125 anos, a atividade na área da alimentação e da nutrição sempre se assumiu como essencial. Numa fase inicial o grande foco foi a análise de géneros alimentícios, tendo os inúmeros métodos analíticos montados permitido sistematizar a composição de alimentos, trabalho encetado no final da década de 30, dando origem à Tabela de Composição dos Alimentos, publicada em 1961, várias vezes atualizada, abrindo caminho à plataforma de informação alimentar – Programa PortFIR – em 2008, no seguimento da adesão ao European Food Information Resource Network (EuroFIR), em 2005, um instrumento essencial e de referência no nosso país, que exige um trabalho contínuo.

A nível laboratorial, ao longo dos anos, tem-se desenvolvido metodologias analíticas de acordo com as novas necessidades e os novos conhecimentos, com vista a uma mais correta avaliação global de produtos alimentares de composição e tecnologia cada vez mais sofisticada. A capacidade científica, técnica e analítica de vanguarda na caracterização de macro e micronutrientes, de contaminantes químicos, na especiação de elementos químicos, na avaliação de embalagens e materiais de embalagem para uso alimentar, na deteção, enumeração, identificação e caracterização de microrganismos, toxinas e fatores de patogenicidade são um sinal da evolução contínua nas diferentes áreas de conhecimento e competências da função referência. Neste domínio destaca-se as funções de Laboratório Nacional de Referência para vírus de origem alimentar, desde 2023.

A participação no ensino e formação de pessoal de saúde, em estágios de pré e pós-graduação, bem como a divulgação da atividade técnico-científica pela comunidade científica e para o público em geral têm constituído ações crescentes.

O Instituto foi pioneiro na realização de atividades vigilância do estado nutricional e dos padrões de consumo alimentar da população portuguesa com realização, em 1980, do primeiro Inquérito Alimentar Nacional, a que se somam a vigilância laboratorial dos surtos de toxinfeção alimentar, estudo e divulgação de indicadores sobre a qualidade e segurança dos alimentos e sobre determinantes da saúde associados à alimentação, bem como o desenvolvimento e validação de instrumentos de observação e de análise dos dados.

As ações no domínio da qualidade marcaram presença no novo milénio. De salientar que, em 2001, o INSA implementou um Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade na área da Microbiologia de Alimentos, da UK Health Security Agency (INSA-UKHSA Food EQA Schemes), inserido num programa a nível mundial. Em 2005, foram estabelecidos e divulgados os “Valores Guia para avaliação da qualidade microbiológica de alimentos prontos a comer preparados em estabelecimentos de restauração“, atualizados em 2019, sendo um documento referência para operadores do setor alimentar, laboratórios e em estudos académicos. E desde 2008 o DAN tem implementado um sistema de gestão da qualidade, encontrando-se acreditado segundo a norma ISO 17025, no âmbito de análises de alimentos e produtos agroalimentares para vários parâmetros, na área da química analítica (macronutrientes, minerais e vitaminas) e na área da microbiologia.

Ao longo dos tempos foi sedimentada a colaboração com as instituições congéneres e outros organismos nacionais e internacionais, nomeadamente a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização para a Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO) e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA). De destacar que desde 1985 são reportados os surtos de toxinfeção alimentar ocorridos em Portugal cuja investigação laboratorial foi efetuada nos laboratórios de microbiologia deste Departamento, inicialmente para a OMS e posteriormente para a EFSA, desde 2004. Em 2010 foi feita a primeira transmissão para a EFSA de dados de contaminantes químicos e aditivos.  Em 2015, a longa colaboração com a OMS, para os assuntos da nutrição e obesidade infantil, resultou na designação do INSA como Centro Colaborativo da OMS para a Nutrição e Obesidade Infantil (CCOMS). É reconhecido internacionalmente o trabalho do CCOMS, de vigilância do estado nutricional infantil, em colaboração com 45 estados-membros da região Europeia da OMS, destacando-se a sua participação ativa no Childhood Obesity Surveillance Initiative (COSI), desde a 1ª ronda em 2008, até à 6ª ronda em 2022.

Nos próximos meses continuaremos aqui, na VIVER SAUDÁVEL, a partilhar algumas das muitas atividades do DAN, que espelham a excelência na área da alimentação e nutrição, sempre com o objetivo de melhorar a saúde da população.