“Olha a Bolinha! Com creme, sem creme!” 2002

Agosto é mês de férias para a maioria das pessoas e, por isso, as praias de norte a sul do país enchem-se de gente em busca de sol e banhos. Mas no areal e nas esplanadas à beira mar, não são só os corpos que ficam mais expostos – também os hábitos alimentares se revelam naquilo que as pessoas escolhem comer ou beber num dia de praia.

Podemos começar pelas populares bolas de Berlim. O terceiro bolo preferido dos portugueses (depois do favorito pastel de nata e do croissant) é uma bola de massa levedada, frita, recheada (mais frequentemente, com doce de ovo) e polvilhada de açúcar. Na prática, são cerca de 500 kcal para uma bola média, com creme. Ainda assim, isso não parece demover os banhistas de se deliciarem com esta iguaria. Mas se este frito doce é popular, que dizer dos fritos salgados? Croquetes e rissóis são também presença habitual nos farnéis que tanta gente leva para a praia. Há quem se gabe de os fazer no forno, esquecendo-se (ou desconhecendo…) que a maioria destes produtos já foram fritos antes do embalamento e/ou congelamento. Folhados e empadas também são escolhas frequentes de quem quer comer algo rápido e prático entre uns mergulhos. E por fim, temos toda a panóplia de snacks, bolachas ou gelados que os portugueses gostam de trincar na praia. É um cenário de terror para qualquer nutricionista com uma conta de Instagram cheia de palitos de cenoura e wraps de alface com húmus…

De facto, existe ainda uma diferença entre o que os nutricionistas recomendam para os “lanches na praia” e aquilo que efetivamente vemos nas lancheiras e geleiras de verão. Porquê? A primeira vez que participei numa reportagem sobre refeições saudáveis na praia foi há 10 anos! Antes disso, e desde então, muitos outros colegas falaram inúmeras vezes do mesmo assunto! Todos os anos, nos meses de verão, as páginas de jornais e revistas enchem-se de textos e fotos de lanches saudáveis. E nas redes sociais proliferam dicas, conselhos e receitas saudáveis. Então, por que raio continuam (aparentemente) os portugueses a comer tão mal na praia?

Talvez este seja um daqueles exemplos do copo meio cheio ou meio vazio. Talvez continuemos a reparar naquilo que está “menos bem”, mas parece certo que muita coisa tem mudado para melhor. Ainda este fim de semana vi, num bar de praia, várias pessoas a comprar melancias cortadas e prontas a comer. Uns comiam-nas na esplanada (a minha primeira reação foi pensar que havia gente a trazer o farnel para o bar), outros levavam-nas para a praia em caixas de take-away. Noutra praia, reparei também em dispensadores de água, para matar a sede de forma saudável e gratuita. Se as bolas de Berlim são um clássico de verão, também os pêssegos de roer andam na geleira de praia há muito tempo (como as melancias, aliás). Se olharmos com mais atenção, veremos que há cada vez mais quem troque os gelados por sorvetes; quem prefira a cerveja sem álcool ou o refrigerante zero; quem leve consigo uma sandes cuidada em vez de algo de pacote. Estas mudanças podem passar mais despercebidas que os grandes erros alimentares, mas, no fundo, o que importa é que as escolhas boas sejam mais frequentes que as menos boas. E essa transição, sem dúvida, está a acontecer!

Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição®

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