Legislativas 2025: Nutricionista estagiário Diogo Silva é candidato do Livre por Aveiro 993

As Eleições Legislativas de 18 de maio destacam-se pela presença de alguns nutricionistas nas listas dos vários partidos. Diogo Silva é o n.º 13 do Livre pelo círculo eleitoral de Aveiro.

Com 27 anos, é natural de Oliveira de Azeméis e conta com experiências profissionais nas indústrias metalúrgica e plástica, antes de se licenciar em Ciências da Nutrição, em 2024, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Frequenta hoje um mestrado em Ciências do Desporto e é nutricionista estagiário numa IPSS.

Em entrevista à VIVER SAUDÁVEL, pede aos jovens licenciados “que não deixem de lutar por um acesso rápido e justo à profissão” e garante não ser utópico “um futuro onde temos um papel crescente na prevenção da doença e na promoção da saúde”.

VIVER SAUDÁVEL (VS) – Enquanto independente, porque decidiu candidatar-se às eleições primárias do Livre?

Diogo Silva (DS) – No atual momento da nossa democracia, em que existe um afastamento das pessoas com os políticos e os partidos, são necessárias medidas que possibilitem uma reaproximação entre as pessoas, os políticos e os partidos. As eleições primárias do Livre, únicas em Portugal, apresentam-se como o expoente máximo da democracia participativa, permitindo que os cidadãos comuns apresentem medidas e uma visão para o seu distrito e país. Estas eleições primárias premeiam a meritocracia, ninguém é escolhido por decreto e todos partem em iguais circunstâncias. A minha candidatura, enquanto independente às primárias, reflete a comunhão de valores que partilho com o Livre e a possibilidade de defender medidas que considero terem especial urgência.

VS – É hoje candidato a um lugar na Casa da Democracia. Que temas vão marcar a sua campanha?

DS – A lista de candidatos que concorre pelo círculo eleitoral de Aveiro é encabeçada pelo Filipe Honório e pela Joana Filipe. Este nosso distrito é muito diverso, nas pessoas e na geografia, e dessa forma procuramos perceber quais os problemas e as soluções para o nosso distrito. A nível local, esta nossa candidatura aborda a necessidade de termos um distrito no qual exista uma rede de transportes que permita a deslocação entre as diversas cidades, de forma efetiva, nas variáveis custo-tempo. Não há transição energética e climática se não dermos às pessoas soluções de transporte o mais confortável possível, que ao mesmo tempo sejam acessíveis do ponto de vista monetário e que não demorem uma eternidade.

“Precisamos de recuperar o SNS, porque apenas com um SNS forte e renovado na sua liderança é possível cuidar da saúde de todos os cidadãos”.

Quando passamos para uma perspetiva mais nacional, é óbvia a necessidade de uma reorganização do SNS. Precisamos de uma nova e renovada visão para o SNS. Nas eleições primárias, abordei a questão de um SNS com uma visão one health, ou seja, uma saúde integrada, que reconhece que a saúde humana está interligada com a saúde animal e a saúde ambiental. Com esta visão, deixaríamos de ter um SNS fechado sobre si para passarmos a ter um SNS preparado para enfrentar de forma efetiva problemas como a resistência microbiana aos antibióticos ou novas pandemias que surjam.

Precisamos de ser menos fármaco-dependentes, enquanto sistema de saúde e enquanto cidadãos. Há a necessidade de finalmente reconhecermos a importância da ação de profissões preventivas da doença e promotoras da saúde, como os nutricionistas, os psicólogos e os prescritores de exercício físico. Precisamos que estes profissionais atuem cada vez mais nos cuidados de saúde primários e que sejam colocados em prática planos nacionais e regionais efetivos.

VS – Como olha para o estado do país, em particular para o estado da saúde?

DS – Continuamos a ser um país que fornece alguns apoios para a formação académica dos portugueses, mas que não tem capacidade de reter os talentos que forma, perdendo recursos financeiros e recursos humanos qualificados.

A saúde é apenas um espelho do cenário nacional nesta situação. São investidos diversos recursos na formação de médicos, mas depois existe falta de médicos porque o SNS não tem condições atrativas o suficiente para estes profissionais qualificados. Continuamos a ser fármaco-dependentes, só olhamos para o imediato e não percebemos os inúmeros ganhos que poderemos ter na saúde da população ao apostarmos na prevenção das doenças e na promoção de hábitos de vida saudáveis.

Após um ano das últimas legislativas, existem pessoas que continuam sem médico de família e diversos cidadãos faleceram por incapacidade do INEM em dar respostas atempadas aos pedidos de auxílio, mas a ministra da Saúde manteve-se em funções até à queda do governo com o chumbo da moção de confiança. Esta desresponsabilização por parte da ministra é o reflexo da falta de ética do governo da AD. Passamos um ano com um SNS à deriva, sem rumo algum. Precisamos de recuperar o SNS, porque apenas com um SNS forte e renovado na sua liderança é possível cuidar da saúde de todos os cidadãos.

VS – E como olha para o estado da sua profissão?

DS – Penso que, tal como eu, a maioria dos jovens que necessitavam de realizar estágios profissionais viram com bom agrado a obrigatoriedade de estágios profissionais remunerados. No entanto, e no caso dos recém-licenciados em Ciências da Nutrição e Dietética/Nutrição, dificilmente alguém conseguiria prever o verdadeiro caos que a obrigatoriedade de remuneração traria no acesso a um estágio profissional.

“No Parlamento, a presença do nutricionista diferencia-se de outros profissionais por ser, em qualquer circunstância, um profissional da saúde, e que baseia o seu conhecimento e tomada de decisão na evidência científica”. Créditos: Carlos Santos Fotografia (Rafael Sousa)

Com a extinção do estágio não remunerado, passou a ser extremamente difícil o acesso a um estágio remunerado, o que se traduz numa geração de recém-licenciados com o futuro profissional em stand by. É urgente a tomada de medidas que a nível prático permitam o acesso à profissão o mais rápido possível.

VS – A Nutrição, enquanto profissão jovem no nosso país, entrou na Assembleia da República em 2024 com Ana Gabriela Cabilhas. Os nutricionistas têm conseguido impor-se na sociedade ou ainda existe um longo caminho para o reconhecimento da profissão? De que forma um nutricionista pode acrescentar um saber diferente ao Parlamento?

DS – Aproveito para dizer que, independentemente do espetro político a que pertençamos, a entrada de uma nutricionista, pela primeira vez, na Assembleia da República, em 2024, é um aspeto positivo para a profissão.

Os nutricionistas têm conseguido impor-se na sociedade – a custo, diga-se – até porque uma sociedade que passa uma parte do seu tempo a visualizar um ecrã e assiste a conteúdos que contêm mitos sobre alimentação ou nutrição, torna o trabalho do nutricionista bastante complexo e difícil. Porque, por cada 30 segundos de um mito, um nutricionista necessita irremediavelmente de mais tempo para pesquisar sobre esse mito e sustentar a sua posição com evidência científica. Mas acredito que cada vez mais a sociedade valoriza o nutricionista enquanto profissional da saúde, com um conhecimento técnico-científico diferenciado. A valorização da profissão, em certa medida, depende de cada um de nós e do quão bom é o impacto que conseguimos criar.

No Parlamento, a presença do nutricionista diferencia-se de outros profissionais por ser, em qualquer circunstância, um profissional da saúde, e que baseia o seu conhecimento e tomada de decisão na evidência científica.

VS – Porque escolheu a Nutrição como área de formação?

DS – Frequentei, por curiosidade, uma formação em Nutrição no desporto, em 2019, e foi simplesmente incrível, vi nas Ciências da Nutrição a oportunidade de ter uma profissão de sonho. O facto de não ser uma profissão monótona surpreendeu-me e encantou-me, pois existem nutricionistas nas mais diversas áreas de atuação e nos mais diversos locais, sendo sempre profissionais de saúde.

VS – Como descreve o seu percurso profissional?

DS – Atualmente, sou nutricionista estagiário. Muito sucintamente, este curto período tem sido difícil, tanto na procura de estágio como na sua adaptação, mas ao mesmo tempo tem sido desafiante e diferente de dia para dia. Têm sido tempos de crescimento pessoal e profissional, sem dúvida.

“São necessários mais nutricionistas no SNS, nas escolas, nas autarquias”. Créditos: Carlos Santos Fotografia (Rafael Sousa)

VS – Que mensagem quer deixar aos colegas nutricionistas?

DS – Aos jovens licenciados, que não deixem de lutar por um acesso rápido e justo à profissão, a profissão precisa de cada um de vós. De um ponto de vista geral e para todos os colegas, as vossas ações individuais, enquanto profissionais diferenciados e de excelência, traduzem-se numa afirmação contínua da profissão na sociedade.

Não é utópico um futuro onde temos um papel crescente na prevenção da doença e na promoção da saúde. São necessários mais nutricionistas no SNS, nas escolas, nas autarquias. Quando os decisores políticos perceberem que um profissional diferenciado como o nutricionista não é um gasto, mas sim um investimento com retornos em ganhos de saúde a médio/longo prazo, a saúde da nossa população e a sustentabilidade financeira vão melhorar.