As Eleições Legislativas de 18 de maio destacam-se pela presença de alguns nutricionistas nas listas dos vários partidos. Carla Godinho é a n.º 5 do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Évora.
Com 40 anos, é nutricionista no município de Montemor-o-Novo, onde reside. A especialista em Nutrição Clínica conta ainda com experiência em contexto hospitalar, e pós-graduações em Cuidados Continuados e em Administração de Unidades de Saúde, sendo hoje mestranda em Gestão de Unidades de Saúde.
Em entrevista à VIVER SAUDÁVEL, a candidata insta os colegas mais jovens a lutarem pelos seus sonhos e deixa uma mensagem de reconhecimento a todos os nutricionistas: “juntos somos mais fortes, que continuemos a lutar pela Nutrição em Portugal”.
VIVER SAUDÁVEL (VS) – Porque decidiu apresentar-se a eleições pelo Partido Socialista?
Carla Godinho (CG) – O amor ao meu Alentejo levou-me a aceitar este novo desafio. É um orgulho imenso ter a possibilidade de lutar pelo desenvolvimento do distrito de Évora na Assembleia da República, na Casa da Democracia.
VS – É hoje candidata a um lugar na Casa da Democracia. Que temas vão marcar a sua campanha?
CG – Nestas Legislativas, assumimos 10 compromissos estratégicos para o futuro do distrito de Évora.
Na área da saúde – um tema que me toca especialmente – o Hospital Central do Alentejo, uma das maiores obras, atualmente em curso no nosso país, pensada, desenvolvida e iniciada por governos do Partido Socialista. Esta é uma obra essencial ao nosso Alentejo, e é urgente a sua conclusão. Com a criação do Hospital Central do Alentejo, em campanhas eleitorais anteriores, o Partido Socialista da Federação de Évora propôs a criação de um cluster na área da saúde, que incluísse a abertura de um curso de medicina, bem como outros cursos superiores de saúde.
O Alentejo cada vez mais envelhecido precisa de um hospital que dê resposta às necessidades da população, que possibilite a fixação de profissionais de saúde na região. É de extrema importância garantir o avanço da obra, a sua total instalação tecnológica e a contratação de recursos humanos, e só com um governo do Partido Socialista será possível garantir esta realidade.
Na área da educação, temos como compromisso a execução do plano de requalificação de 10 escolas do nosso distrito, já assumido anteriormente pelo governo do Partido Socialista com a Associação Nacional de Municípios.
Na habitação, pretendemos reforçar o investimento público, criando mecanismos financeiros que permitam aos nossos Municípios promover a construção e reabilitação de habitações a preços acessíveis.

Isenção de portagens na A6 para os residentes e concluir a ligação ferroviária Sines-Caia, bem como as grandes infraestruturas rodoviárias do distrito. É urgente modernizar as redes viárias municipais, aplicando critérios de descriminação positiva em função da interioridade e da densidade populacional, de forma a garantirmos a mobilidade segura e equitativa no nosso território.
Queremos concluir os blocos de rega e valorizar a agricultura sustentável, e para isso são precisas medidas que apoiem a agricultura de sequeiro, e a proteção e densificação do nosso montado.
No âmbito tecnológico, queremos a cobertura digital em todo o distrito, promovendo a literacia digital como ferramenta de inclusão e desenvolvimento.
Na cultura, queremos afirmar Évora como Capital da Cultura Europeia. Tratando-se de uma região interior, é importante defender o acesso prioritário aos fundos europeus no período pós-2027, assegurando que o distrito de Évora mantém a capacidade de liderar projetos de coesão, inovação e sustentabilidade.
VS – Como olha para o estado do país, em particular para o estado da Saúde?
CG – O nosso SNS é um pilar fundamental do Estado Social, maior conquista de Abril e uma das principais marcas da ação governativa do Partido Socialista.
Como dizia António Arnaut, considerado o “Pai” do SNS, é preciso reconduzir o SNS à sua matriz constitucional e humanista.
É importante manter os princípios fundamentais do SNS: a universalidade, a generalidade e a tendencial gratuitidade. A proximidade, a integração de cuidados e a resposta em rede permite o acesso a cuidados de saúde a todos os cidadãos, independentemente da sua situação socioeconómica ou geográfica, dando ênfase na promoção da saúde, na prevenção da doença, no diagnóstico, no tratamento e na reabilitação dos doentes.
Em Portugal, as transformações sociais e económicas, juntamente com algumas políticas de saúde, permitiram uma melhoria dos indicadores de saúde, nomeadamente no aumento da esperança média de vida e a diminuição da mortalidade infantil. Contudo, este último ano mostrou-nos que ainda temos muito a melhorar, com uma população cada vez mais envelhecida. Com elevada carga de doenças crónicas, é necessário reconsiderar as prioridades em saúde, e acredito que apenas o Partido Socialista irá ter a capacidade de fortalecer o nosso SNS.
VS – E como olha para o estado da sua profissão? Os nutricionistas têm conseguido impor-se na sociedade ou ainda existe um longo caminho para o reconhecimento da profissão?
CG – Os Nutricionistas têm hoje mais prestígio e notoriedade na nossa sociedade, são uma presença no SNS, e noutras instituições públicas, privadas e sociais.
Contudo, ainda temos um longo caminho a percorrer. A alimentação é um dos determinantes com mais impacto na saúde e no combate de algumas doenças, sendo fundamental a definição de políticas que promovam o acesso e a qualidade dos cuidados e a promoção da saúde, com foco na Nutrição.

O futuro do SNS passa também pela Nutrição e pelos nutricionistas, não podemos promover a saúde da população, se desvalorizarmos questões alimentares e nutricionais.
VS – A Nutrição, enquanto profissão jovem no nosso país, entrou na Assembleia da República em 2024 com Ana Gabriela Cabilhas. Os nutricionistas têm conseguido impor-se na sociedade ou ainda existe um longo caminho para o reconhecimento da profissão? De que forma um nutricionista pode acrescentar um saber diferente ao Parlamento?
CG – Um nutricionista pode sempre acrescentar contributos pela sua experiência profissional, nomeadamente porque o futuro do SNS também passa pela Nutrição, e seria importante repensar o número adequado de nutricionistas nas instituições, bem como o modelo de acesso a este tipo de cuidados, pela importância da atuação destes profissionais na qualidade de cuidados de saúde prestados.
VS – Porque escolheu a Nutrição como área de formação?
CG – A Nutrição é uma profissão que combina a minha paixão pela saúde, a possibilidade de ajudar os outros e de me desenvolver profissionalmente numa área em constante evolução, muito versátil, com diversas áreas de atuação, desde a Nutrição clínica, a restauração coletiva e a Nutrição comunitária e saúde pública. Para mim, é um gosto e um desafio diário.
VS – Como descreve o seu percurso profissional?
CG – O meu percurso profissional tem sido repleto de muitas aprendizagens. Tive a sorte de integrar equipas multidisciplinares fantásticas, com pessoas que me possibilitaram um crescimento profissional sólido.
Tive a possibilidade de trabalhar em IPSS, em meio hospitalar, em cuidados continuados, em cuidados paliativos, e atualmente num município.
A minha experiência profissional permite-me conhecer várias realidades no meu Alentejo, no meu distrito. Uma região do interior que precisa de investimento, porque todos contam.
VS – Que mensagem quer deixar aos colegas nutricionistas?
CG – Aos colegas que estão agora a dar os primeiros passos na profissão, que acreditem e lutem pelos seus sonhos, sem medos e com a convicção de que fazemos verdadeiramente a diferença.
A todos os outros colegas nutricionistas, uma mensagem de reconhecimento: juntos somos mais fortes, que continuemos a lutar pela Nutrição em Portugal.