Notas e anotações 722

As crianças passam a maior parte do seu dia na escola. Neste contexto, a alimentação escolar assume relevância, não só por contribuir para o seu normal desenvolvimento físico, motor e cognitivo, mas também porque os hábitos alimentares saudáveis adquiridos na infância tendem a consolidar-se na vida adulta.

Dos 800 milhões de pessoas que passam fome no mundo, 500 milhões são crianças. A alimentação escolar pode também ser uma peça-chave no combate à morbilidade precoce. Na África e no Sul da Ásia, a refeição escolar diária é, por vezes, a única refeição condigna a que muitas crianças têm acesso ao longo do dia.

Representa um complemento aos esforços no combate à pobreza absoluta e insegurança alimentar nos agregados familiares, e às campanhas para elevar a literacia nutricional da população em geral.

Nas suas mais variadas formas, são muitas vezes associadas a iniciativas de combate ao desperdício alimentar, mercados agrícolas de proximidade, economia solidária, circuitos curtos e compras públicas locais, contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

No contexto europeu, as iniciativas de alimentação escolar são geralmente organizadas por entidades governamentais e autárquicas, atendendo às necessidades e preocupações específicas de cada país ou localidade. O chamado Regime de Fruta Escolar (RFE), por exemplo, procede à distribuição de fruta, hortícolas e materiais didáticos a alunos do 1º ciclo do ensino básico, com o intuito promover o conhecimento e a prática alimentar saudável junto das crianças e dos seus encarregados. A Direção-Geral do Consumidor e a Associação Portuguesa dos Nutricionistas produziram também um guia com orientações sobre alimentação em idade escolar.

No contexto africano e asiático, para além das entidades do setor público, a alimentação escolar conta com a colaboração do Programa Mundial da Alimentação (PMA), da Organização das Nações Unidades para a Alimentação e Agricultura (FAO) e de muitos organismos não-governamentais nacionais e internacionais. Em muitos casos combinam a educação com a assistência alimentar.

Na América Latina e Caraíbas, também florescem projetos inspirados em tradições locais e novas políticas públicas de combate à pobreza e malnutrição. Há experiências no Brasil, Bolívia e Colômbia que se destacam pela sua multidisciplinaridade e inovação.

Uma nota importante é que se assiste a um crescente envolvimento de nutricionistas, conferindo maior credibilidade aos processos, em prol de um mundo mais saudável, dingno e sustentável.

Hélder Muteia,
Responsável do Escritório da FAO em Portugal e junto da CPLP

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