Dieta, microbiota e dermatite atópica: qual o nosso papel na prevenção? 2111

O microbiota intestinal desempenha um papel importante nas doenças alérgicas, incluindo a dermatite atópica (DA). Hoje é bem (re)conhecido o papel do microbita na saúde humana. O microbiota intestinal é reconhecido como órgão metabólico, endócrino mas também modulador do sistema imunitário. Sabe-se que desequilíbrios do microbiota intestinal, disbioses, estão associados ao desenvolvimento de doenças como cancro, obesidade, diabetes tipo 2, doenças autoimunes como a psoríase, entre muitas outras. Todas estas com um padrão de inflamação crónica de baixo grau. A DA não é exceção. Trata-se de uma doença inflamatória da pele, mas não só. Também com manifestações no intestino e no pulmão.

Sabe-se que o desenvolvimento de doenças alérgicas, como a asma e a DA, está intimamente associado a alterações na diversidade e composição do microbiota intestinal, em particular, menor abundância de Lactobacillus e de Bifidobacterium. No entanto, as proporções de Escherichia coli, Clostridium difficile e Staphylococcus aureus estão aumentadas nos pacientes com DA. Curiosamente, as alterações ao nível do microbiota intestinal são observadas antes de qualquer manifestação clínica, logo no início da vida, indicando a disbiose microbiana intestinal como uma das causas da DA. Mais, tipicamente a integridade intestinal está comprometida, com maior permeabilidade, chamado de ‘leaky gut’.

Sabe-se que durante os primeiros 2-3 anos de vida o microbiota intestinal assume uma composição semelhante ao que terá o adulto. Estes primeiros anos de vida são de uma enorme vulnerabilidade e por isso de oportunidade para uma maior atenção de todos, em particular dos profissionais de saúde. Sabe-se que o tipo de parto, se leite da mãe ou de fórmula, diversificação alimentar, presença de animais domésticos, toma de antibióticos, vida em ambiente rural ou urbano, vão ser determinantes para a formação deste órgão, o microbiota intestinal.

Sabe-se que a maioria dos probióticos, contribuem para a tolerância imunológica. A imunoglobulina (Ig) A é uma proteína antibacteriana que bloqueia a adesão de patógenios ao epitélio intestinal e aumenta a retenção de bactérias no muco. Sabe-se que a Bifidobacterium estimula as placas de Peyer para induzir a produção de IgA e manter a integridade da barreira intestinal. A administração de Lactobacillus GG e Saccharomyces boulardii afeta a liberação de citocinas e o ambiente da mucosa, e isso aumenta a produção de IgA no intestino. A regulação do equilíbrio entre as respostas do sistema imunológico do tipo Th1 e do tipo Th2 é uma forma de melhorar os sintomas clínicos em doenças alérgicas. Sabe-se que B. animalis subespécie lactis Bb12 aumentou a resposta de IgA. Mais, o D-triptofano, como metabolito de Bifidobacterium, Lactobacillus e Lactococcus, suprime a resposta Th2, aumentando a IL-10, e diminuindo a IL-12, IL-5 e IFN-gama. Estudos pré-clínicos em que usam suplementação com D-triptofano, têm resultados significativos ao nível da resposta Th1/Th2. O ácido linoleico conjugado (CLA) inibe a liberação de histamina, o que induz aumento da permeabilidade vascular e está associado ao desenvolvimento da DA. Sabe-se que Bifidobacterium, Lactobacillus e Roseburia spp. metabolizam ácidos gordos polinsaturados, incluindo ácidos gordos ómega-3 e ómega-6, em CLA.

Considerando-se o conhecimento sobre os benefícios da adesão à Dieta Mediterrânica sobre a diversidade do microbiota e sobre os metabolitos que mais predominam como os ácidos gordos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato), compreende-se a importância de alteração dos hábitos alimentares, se não antes, pelo menos durante a gravidez e que sejam adotadas essas rotinas na família.

A evidência epidemiológica e molecular primeiro, e a evidência mais recente clínica de estudos de intervenção, durante a gravidez e primeiros dias de vida, com probióticos, mostraram benefício na prevenção da DA. Os probióticos contribuem para corrigir/compensar a disbiose, o equilíbrio das respostas imunológicas e a regulação da atividade metabólica. A maioria dos estudos sugere que os suplementos probióticos podem ser uma alternativa para a prevenção e tratamento da DA. Estudos mais recentes mostram benefício do transplante (transferência) de microbiota intestinal na DA. Uma esperança terapêutica na DA.

Conceição Calhau, Professora Catedrática da NOVA Medical School

Envie este conteúdo a outra pessoa