Síndrome do Impostor [Opinião de Rodrigo Abreu] 1449

Relatada pela primeira vez na década de 1970, a síndrome do impostor caracteriza-se pela dúvida que um indivíduo pode sentir, de forma continuada, nas suas capacidades e valor. Estas pessoas vivem permanentemente com o sentimento de dúvida em relação a si próprias, considerando-se inferiores aos outros. E nem os elogios recebidos ou os sucessos atingidos são suficientes para desvanecer essa auto depreciação. Para quem sofre de síndrome do impostor, é apenas uma questão de tempo até que os outros descubram que são uma fraude e tudo aquilo que correu bem, foi apenas sorte. Vem isto a propósito da última crónica, onde abordava as pessoas que se preocupam mais com o que parecem do que com aquilo que são. Se todos nós conhecemos alguém mais “gabarola”, também é verdade que existem muitas pessoas com valor, mas inseguras quanto ao seu mérito. A síndrome do impostor é, de facto um assunto entre os nutricionistas, como atestam vários estudos recentes.

Há vários fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome de impostor. Seguir uma carreira diferente da dos seus pares (por exemplo, mulheres que trabalham na área das tecnologias de informação) ou ser a primeira geração da família a completar um curso do ensino superior, podem contribuir para a insegurança no exercício dessas funções. Algo similar se passa com a profissão de nutricionista, que, sendo relativamente recente, tem lutado ao longo dos anos pelo reconhecimento e valorização que justamente merece. A esta “juventude”, acresce ainda a dificuldade inerente à medição e quantificação do valor das Ciências da Nutrição. Por exemplo, quando alguém com obesidade se dirige a um nutricionista, não é expectável que esta patologia se resolva num horizonte temporal curto! Ao contrário de uma dor de dentes ou de uma constipação, tratar o peso excessivo pode demorar tempo e envolve uma colaboração demorada e consistente do utente. O benefício da consulta com o nutricionista não é imediato! Dificuldades similares acontecem na quantificação dos ganhos proporcionados pela atividade do nutricionista. Determinar o valor poupado a longo prazo em medicação, custos de internamento, absentismo laboral ou redução da produtividade das pessoas com obesidade é sempre mais difícil (ou menos óbvio, para alguns) do que calcular o valor a pagar pela integração de nutricionistas em serviços de saúde. Esta ausência de imediatismo nos resultados, pode levar a que alguns colegas cheguem a duvidar do valor daquilo que fazem.

Outro aspeto importante neste sentimento de “desvalorização”, prende-se com a natureza multidisciplinar do trabalho do nutricionista. Frequentemente integrado em equipas com outros profissionais, é vulgar não ser o nutricionista a liderar os processos e tarefas em que está envolvido. Isto significa que pode ser difícil fazer entender a razão ou utilidade dos procedimentos levados a cabo pelo nutricionista, sobretudo se os restantes profissionais ainda não têm consciência do papel da Nutrição. Este é um fenómeno transversal a todas as áreas de atuação: na alimentação coletiva, onde existe enorme pressão com os custos das refeições; na nutrição comunitária, onde a prioridade pode ser tratar patologias da população, em vez de as prevenir; e na nutrição clínica, onde problemas de saúde com sintomas mais exuberantes e tratamento mais rápido, acabam por ter maior protagonismo. Por todas estas razões, também não é de estranhar que, mesmo quando são reconhecidos méritos à Nutrição, sejam outros profissionais a reclamar esse valor.

Para que, a nível individual e de classe profissional, possamos ultrapassar qualquer vestígio de síndrome do impostor, é fundamental celebrar todas as conquistas dos nutricionistas – iniciativas como os Prémios VS são um excelente exemplo de reconhecimento e projeção do valor dos nutricionistas! Outro aspeto chave é evitar a tentação do perfecionismo. Objetivos irrealistas para aquilo que os nutricionistas devem atingir, ou uma crítica constante ao trabalho que desenvolvem (mesmo quando a crítica pretende ser construtiva), podem minar a confiança de quem ainda duvida (ou receia que duvidem) do seu valor. Por fim, é importante evitar as comparações. Quer os nutricionistas que se comparam com outros colegas, quer os que se comparam com profissionais de outras especialidades, correm o sério risco de sentir que nunca são suficientemente bons ou valorizados. Saibamos, pois, apreciar tudo o que já foi feito pelos nutricionistas, e desfrutemos do caminho que ainda temos de fazer!

Por Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição®

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