Os verdadeiros influenciadores 1103

«Sabem quem é este senhor?», perguntou a Diretora do Agrupamento de Escolas às dezenas de crianças que se acomodavam no anfiteatro, para uma palestra sobre alimentação saudável. Por entre as respostas que alguns miúdos iam atirando para o ar, consegui distinguir várias vezes a palavra «nutricionista». E sorri ao pensar que, naquela idade, eu nem fazia ideia do que era um nutricionista… Mas o que me surpreendeu mais foi a resposta da Diretora à pergunta que ela própria lançara: «Este é o senhor que escolhe tudo aquilo que vocês comem aqui na Escola». Aquelas palavras fizeram eco dentro de mim, mesmo depois de ter terminado a palestra e já estar fora da Escola. De facto, ao desenhar as ementas e os bufetes escolares daquele Agrupamento, sou o responsável por aquilo que centenas de crianças comem cinco dias da semana… Mas não só!

Numa altura em que tanto se fala de «influenciadores», sobretudo os digitais, que dizer do(a) Nutricionista? Nas escolas, quantas crianças se alimentam de refeições planeadas por nutricionistas? Muitos milhares, sem dúvida! Quantas pessoas doentes, internadas ou em ambulatório, têm a sua alimentação controlada por nutricionistas? Quantas pessoas seguem planos alimentares, que determinam as suas escolhas alimentares diárias, estabelecidos por nutricionistas? Quantos atletas, do amador que treina no ginásio ao campeão de alto rendimento, comem com supervisão de nutricionistas? Quantas cantinas, refeitórios e restaurantes proporcionam aos seus milhares de clientes, todos os dias, refeições mais saudáveis desenhadas por nutricionistas? E os produtos alimentares mais equilibrados nutricionalmente que a Indústria Alimentar lança no mercado todos os anos, destinados a milhões de consumidores, revistos por nutricionistas? Na realidade, um(a) só nutricionista pode determinar as escolhas alimentares de vários milhares de pessoas, se não mesmo de milhões! Se isto não é um «influenciador», não sei o que será…

Sem dúvida que um dos meus desejos para 2019 é que se possa divulgar mais todo este trabalho desenvolvido pelos nutricionistas. Um trabalho muitas vezes silencioso ou feito de forma quase anónima, por vezes em estruturas que nem sempre valorizam devidamente o mérito de quem o faz. Temos as competências certas para influenciar (no bom sentido) o que as pessoas comem e, no entanto, isso não tem ainda o reconhecimento adequado. Como fez aquela Professora comigo, as crianças precisam conhecer quem escolhe o que elas comem, e porquê. Precisam saber que há uma pessoa que se preocupa com a sua alimentação, para que também elas se preocupem e cuidem da sua forma de comer. Alimentar é também cuidar, e quem come sob os cuidados de um(a) nutricionista, precisa saber quem cuidou da sua alimentação. As ementas e rótulos alimentares não podem ser apenas listas de alimentos, com as calorias e macros em letras pequeninas – têm de ser uma afirmação do cuidado posto pelo nutricionista naquelas refeições ou alimentos. Por exemplo, porque não são assinadas todas as ementas desenhadas por nutricionistas?

Os nutricionistas são, por defeito, influenciadores. Sejamos capazes de o assumir, reclamando o mérito e a responsabilidade por isso.

Rodrigo Abreu

Nutricionista

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