“Mindfulness” ajuda a curar distúrbio de ingestão alimentar compulsivo 396

02 de Março de 2016

Mulheres sofredoras da perturbação do distúrbio de ingestão alimentar compulsivo sujeitaram-se a um programa baseado na “mindfulness” e conseguiram, em dez sessões, deixar de comer compulsivamente, disse hoje à “Lusa” o presidente da Associação Portuguesa para o Mindfulness.

Em entrevista à “Lusa”, à margem do evento “Dias da Psicologia”, que começou hoje na cidade do Porto, na Universidade Católica, José Pinto-Gouveia, presidente da Associação Portuguesa para o Mindfulness, referiu que os resultados recentes de um programa de dez sessões, realizado a mulheres com distúrbios de ingestão alimentar, foram «entusiasmantes» e que todas deixaram de comer compulsivamente.

Segundo o especialista José Pinto Gouveia, as mulheres que se submeteram ao programa começaram com o diagnóstico e com uma determinada frequência semanal de episódios de ingestão alimentar compulsiva, mas quando chegaram ao fim das dez sessões do programa, «nenhuma delas preenchia os critérios para diagnóstico».

Por exemplo, pessoas comiam bolachas todas as noites, depois das sessões deixaram de as comer compulsivamente.

Para os resultados positivos, trabalhou-se com os princípios de educação alimentar, designadamente fazer cinco refeições por dia e não saltar refeições, mas o foco incidiu em lidar com as emoções negativas.

Ter emoções negativas não significa que nos temos de empanturrar, alerta José Pinto Gouvieia, explicando que há outras formas de lidar com o negativismo, não fazendo «tudo o que vem à cabeça».

«A maioria destas doentes com perturbação alimentar e ingestão compulsiva são muito críticas, são muito boas a criticar-se quando falam, mas são muito más a cuidar de si. Elas não têm a noção do que é cuidar de si, nunca se perguntam o que é que eu preciso. Não respeitam as suas necessidades pessoais», conta o presidente da Associação Portuguesa de Mindfulness.

José Pinto Gouveia reconhece que é fulcral ensinar as pessoas a mudar o tom interior.

«Há um tom interior com que falamos connosco e esse tom, habitualmente em pessoas com problemas psicológicos, é um tom crítico e frio e as pessoas não percebem que esse tom influencia enormemente a sua vida psicológica e o seu bem-estar», explica, afirmando que as pessoas podem deixar de se auto criticar e podem ser mais compassivas, porque se tornam «muito mais eficazes quando são autocompassivas, do que quando se criticam».

O “mindfulness” «é a arte de prestar atenção à nossa experiência, momento a momento e não ajuizar sobre ela, ou seja se estou triste, estou triste, não ajuízo que é mau estar triste ou que não devo estar triste e percebo que a minha tristeza tem a ver com algumas coisa que me aconteceu», explica aquele especialista.

Para José Pinto Gouveia é essencial «aceitar», mas o que habitualmente as pessoas fazem «é correr logo para deitar a tristeza fora».

«As emoções más fazem parte da nossa vida e portanto temos de estar com elas, em vez de ir logo empanturrar ou ir beber um copo, o melhor caminho é aceitar que estamos tristes, porque aconteceu alguma coisa na nossa vida, mas amanhã vão acontecer outras coisas e, se calhar, já não vamos estar tristes», concluiu.

A pessoa que pratica “mindfulness” vai mudando, mas não nota essa mudança, são normalmente os amigos que notam que a pessoas vão ficando menos reativas, mais aceitantes, começando a lidar melhor com a dor, conta.

«Eu não controlo o que penso, não posso afastar aquilo que não quero, pensar é perigoso, afinal o que posso fazer para controlar as coisas?», questiona o especialista, para logo responder que é com o corpo que se pode ajudar a «tranquilizar as experiências piores».

«No corpo podemos lidar com as coisas, no pensamento é muito difícil».

«O “mindfulness” promove a descentração em relação aos pensamentos negativos, promove a aceitação e o anti-evitamento. (…) Oferece-nos a possibilidade única de aprendermos a controlar a nossa mente em vez de sermos controlados por ela» e de agir em consciência e «não em piloto automático distraidamente», afirma.

Hoje, o primeiro dia dos “Dias da Psicologia” centrou-se no “Mindfulness e nas terapias de 3.ª geração”, dando destaque aos projetos desenvolvidos na Clínica Universitária de Psicologia (CUP) da instituição, mas o evento prolonga-se até à próxima sexta-feira, dia 04, na Faculdade de Educação e Psicologia na Universidade Católica do Porto.
 

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