
Por Inês Gouveia, Coordenadora do Departamento de Política e Relações Externas, Alice Nobre, Vogal do Departamento de Política e Relações Externas, e Benedita Nápoles, Vogal do Departamento de Política e Relações Externas da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição (ANEN).
O papel dos criadores de conteúdo digital no incentivo a hábitos alimentares saudáveis da população constitui uma questão de saúde pública complexa e urgente.
As redes sociais e as plataformas digitais tornaram-se canais dominantes de partilha de informação. No entanto, é preocupante a facilidade de propagação de desinformação e a utilização destas plataformas para práticas que colocam em risco o bem-estar da população.
O último relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) e da Ordem dos Nutricionistas revela o aumento do exercício ilegal da profissão de Nutricionista, frequentemente realizado por influencers ou coaches, sem qualificação para tal. Por esse motivo, a Ordem dos Nutricionistas, através do seu Departamento Jurídico, está focada em investigar as denúncias de exercício ilegal da profissão, efetuando as diligências necessárias para poder apresentar a competente queixa crime. Segundo o relatório das denúncias de exercício ilegal da profissão de Nutricionista, encontram-se em análise 34 denúncias. Porém, devido à dificuldade na obtenção de provas da atividade ilegal, muitos destes processos acabam por ser arquivados, invocando esse mesmo motivo.
As plataformas digitais tornaram-se um espaço onde, independentemente das qualificações, todos podem intitular-se “especialistas”, o que pode desencadear graves consequências para a saúde pública.
Contudo, e prevendo um aumento de novas profissões digitais, devemos também considerar a potencialidade positiva dos influencers. Com a formação e fiscalização adequadas, os criadores de conteúdos digitais podem revelar-se agentes de promoção de estilos de vida saudáveis. O desafio consiste em encontrar o equilíbrio, para que as suas ações sejam guiadas por princípios éticos e evidências científicas.
A regulamentação do marketing digital e a responsabilização daqueles que exercem ilegalmente a profissão de Nutricionista, são passos fundamentais, mas não suficientes. A solução passa igualmente por reforçar a literacia em saúde, fomentando uma cultura digital mais responsável e consciente.
A saúde das gerações futuras está em causa e todos, desde os influencers, às autoridades de saúde, têm um papel fundamental como promotores de saúde pública. Enquanto sociedade, temos a responsabilidade de exigir transparência e ética no conteúdo que consumimos.