Ucrânia: Lavrov declara que acordo dos cereais está morto 975

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, declarou esta segunda-feira (10) morto o acordo para a exportação de cereais ucranianos através do Mar Negro, afirmando que esta iniciativa não pode ser melhorada porque “não existe”.

A atual prorrogação do acordo, assinado no verão de 2022 em Istambul pela Ucrânia e pela Rússia sob a mediação da ONU e da Turquia, termina no próximo dia 17 de julho. A par dos cereais ucranianos, o documento também abrangia a exportação de fertilizantes e de produtos alimentares russos.

“Não sei como se pode melhorar algo que não existe”, afirmou o chefe da diplomacia russa, ao comentar o futuro do acordo durante a conferência de imprensa no final da sexta ronda de diálogo estratégico entre a Rússia e o Conselho de Cooperação para Estados Árabes do Golfo.

Lavrov disse que “na parte russa (…), nenhum dos pontos [do acordo] nunca foi cumprido”, cita a Lusa.

“Há muito tempo, muitos meses, ouvimos dos representantes do secretariado da ONU, do secretário-geral [António Guterres], daqueles que foram encarregados de lidar com o assunto, que fazem esforços desmedidos (…) que não levaram a nenhum resultado”, afirmou o político russo perante os representantes da entidade árabe.

No entanto, Lavrov observou que, apesar do fracasso desta iniciativa, a Rússia está pronta para “satisfazer todas as necessidades, inclusive adicionais” dos parceiros árabes.

“Não há nenhum obstáculo para isso. E nenhuma condição é exigida que dependa de quem não pode cumprir os seus compromissos”, acrescentou, numa alusão aos representantes das Nações Unidas.

O porta-voz do Kremlin (Presidência russa) salientou esta segunda-feira que para já “nada mudou em relação ao acordo, pelo que não se pode dizer nada de novo”, frisando que “a situação de facto é bem conhecida”.

Embora não tenha sido contundente a esse respeito, a Rússia tem repetidamente sinalizado que não pretende alargar a chamada Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, alegando que, por um lado, se tornou um pacto comercial e não humanitário e, por outro lado, o memorando russo continua por cumprir.

Moscovo tem contestado os entraves sobre as suas exportações de fertilizantes e de produtos alimentares, alegando que o seu setor agrícola está a ser prejudicado pelas sanções impostas pelo Ocidente na sequência da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

As exigências da Rússia incluem a reintegração do seu banco agrícola, Rosselkhozbank, no sistema bancário internacional SWIFT, o levantamento das sanções sobre as peças sobresselentes para a maquinaria agrícola, o desbloqueio da logística de transportes e dos seguros, o descongelamento de ativos e a reabertura do oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa, que explodiu a 05 de junho.

Perante as resistências do Kremlin em renovar o acordo, o que tem acontecido em cada momento de renegociação, várias notícias dão conta de que o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pode abdicar da assinatura de Moscovo e assumir ele próprio, através das suas forças navais, a escolta dos navios mercantes carregados com cereais no Mar Negro.

Segundo dados das Nações Unidas, desde que o acordo entrou em vigor, mais de 30 milhões de toneladas de cereais foram escoados a partir dos portos do sul da Ucrânia.

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