O Futuro da Cozinha Popular Portuguesa passa pela Agricultura Familiar 1958

“Temos orgulho no nosso país e na nossa tradição gastronómica e reconhecemos a riqueza da identidade da cozinha portuguesa!”. Este é o primeiro ponto do Manifesto para o Futuro da Cozinha Portuguesa, apresentando em maio de 2017.

Os seus subscritores, chefes portugueses, deixam claro que aquilo que os funda enquanto cozinheiros (as) é indissociável da sua identidade gastronómica, do reflexo do seu território e dos povos e culturas que a influenciam. Por outras palavras, o que os sustenta é a cozinha popular portuguesa, a mesma que se encontra numa transição acelerada prenhe de riscos e oportunidades.

O manifesto enfatiza o respeito pela sazonalidade dos produtos, o consumo responsável, o direito de todas as crianças conhecerem a sua identidade alimentar, o valor dos produtores familiares e dos produtos autóctones, o valor da produção local e a sustentabilidade global dos modos de produção. Contudo, a modernização da agricultura, a desertificação populacional rural, o acesso a alimentos industrializados e de baixo valor nutritivo entre outras causas, estão a alterar a relação dos portugueses com o seu território e a sua comida.

Como já mencionei em outros momentos, a valorização da identidade gastronómica portuguesa não se pode dissociar dos sistemas agrários tradicionais e dos ciclos naturais dos nutrientes. O grande desafio nacional será, por isso, o de promover uma transição para sistemas alimentares mais sustentáveis. As atuais discussões em curso que visam obter um novo Estatuto para a Agricultura familiar no país podem certamente ajudar neste processo já que a agricultura familiar é fundamental para a permanência e (ou) transição para modelos produtivos mais sustentáveis.

É assim fundamental influenciar todos os cozinheiros, consumidores, produtores, fornecedores, empresários do setor, jornalistas, investigadores, críticos, artistas, pensadores para que se assumam assim como agentes de mudança e de promoção da agricultura familiar e da cozinha popular portuguesa.

Francisco Sarmento,
Chefe do Escritório de Informação da FAO em Portugal e junto da CPLP

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