Crónica Nutricional para Hipertensos 784

Tratar mais e melhor, com menos

A Hipertensão Arterial (HTA) é uma síndrome multifatorial que afeta mais de 42% dos portugueses e, directa ou indirectamente, é responsável pela morte de 1 em cada 3 pessoas em Portugal.

A Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH) tem vindo, ao longo dos anos, a chamar a atenção para a necessidade de medidas e de políticas que conduzam a um menor consumo de sal diário na nossa alimentação.

Seja pela lei do sal no pão (pioneira na Europa e no mundo), seja pela sugestão de etiquetagem dos alimentos embalados com a cor dos semáforos indicativa da quantidade de sal nos mesmos (infelizmente ainda não traduzida em lei), seja ainda por outras tantas iniciativas que fomos desenvolvendo ao longo do tempo, a verdade é que somos hoje, felizmente, um povo mais consciente e mais alertado para os malefícios deste aditivo.

Estamos convencidos, enquanto Sociedade Científica e, disso muito nos orgulhamos, que este é um caminho que já não volta para trás. Mas porque continuamos, apesar de tudo isto, a ter muita mortalidade e muita morbilidade associada quer à HTA, quer ao Risco Cardiovascular Global (RCVG), é preciso iniciar um caminho que nos leve mais adiante.

Parafraseando Fernando Pessoa e, porque o caminho se faz caminhando, eis que estamos empenhados em iniciar esta caminhada a favor de tratar mais e melhor, com menos.

O que é que isto quer dizer?

Muito simples!

1. Sabemos que todos nós devemos ter uma Tensão Arterial (TA) abaixo dos 140/90 mmHg;
2. Sabemos que quando isto não acontece, vamos, quase invariavelmente, precisar, para além da modificação obrigatória do estilo de vida, de medicação que tem de ser entendida para toda a vida, independentemente de termos atingido os valores normais de TA;
3. Sabemos que para se atingir as metas desejadas, vamos precisar, para a esmagadora maioria dos casos, de mais do que uma molécula activa;
4. Sabemos que estamos mais dispostos e mais motivados para tomar apenas um comprimido por dia, do que vários comprimidos e várias vezes ao dia.

Então, fica por saber, por que é que mantemos tanta resistência a tratar a HTA e o RCVG em geral com associações de fármacos, preferencialmente, em doses fixas.

Então, fica por saber, por que é que mantemos tanta resistência em optar, para quem precisa de ser tratado, por uma medicação simples, eficaz, cómoda e que conduza a uma maior adesão ao tratamento.

Por vezes dou comigo a falar com os meus próprios botões:

De tão simples e claro que isto é, até parece que há alguém que gosta de tratar mal.
De tão simples e claro que isto é, até parece que há quem não queira disponibilizar a
quem prescreve, uma opção cientificamente provada e indicada em todos os manuais
de boas prácticas.

Este é, pois, hoje o novo lema da SPH: Ajudar, em diálogo sereno, mas firme, a fazer compreender que resistir às evidências do presente, não só estamos a hipotecar o futuro, como estamos a regressar ao passado.

Manuel de Carvalho Rodrigues,
Presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão

(Texto escrito com a ortografia antiga)

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