Quem tem medo dos Nutricionistas? 2186

Uma breve incursão por fóruns online ou caixas de comentários nas redes sociais é suficiente para ficar a par das mais variadas teorias da conspiração. Mas se temas como a Terra plana, os chemtrails ou algumas terapias alternativas são obviamente disparatados e nos podem até fazer rir, há outros que merecem maior reflexão. Por exemplo, quando pessoas com algum grau de responsabilidade profissional acusam a indústria farmacêutica de estar interessada em pessoas doentes, caso contrário não venderia medicamentos, o assunto é sério. Também a nutrição e alimentação são dadas a uma variedade de mitos e teorias da conspiração. Vale a pena refletir sobre alguns deles, pois apesar da variedade de formas que assumem, une-os um propósito comum, mais ou menos assumido: desacreditar os nutricionistas.

Veja-se o caso dos colegas que trabalham na indústria agroalimentar e restauração coletiva, alvos da vil suspeita de estarem “comprados” por “grandes empresas”, para enganar os consumidores e validar produtos “nefastos” para a saúde. Afirmar que estes profissionais são corrompidos por trabalharem com fabricantes de alimentos faz tanto sentido como dizer que os nutricionistas que trabalham nos hospitais, clínicas ou centros de saúde não tratam devidamente os seus utentes porque se o fizessem, perdiam clientes ou deixava de se justificar a sua contratação! Os colegas que trabalham na indústria são pagos, precisamente, para ajudar a desenvolver soluções com melhor perfil nutricional, algo que interessa a todos nós. E o alcance do seu trabalho é enorme – basta pensar nos milhares (milhões!) de pessoas que já escolhem alimentos menos açucarados ou refeições com menos sal e gordura, fruto da reformulação feita com a ajuda desses nutricionistas. Parece pouco provável que seja a indústria a ter medo dos nutricionistas, quando na realidade eles são uma ajuda preciosa para levar os seus produtos ao encontro das preferências e necessidades dos consumidores.

E nas farmácias ou ginásios? Também aqui vemos colegas alvo de suspeita – neste caso, de impingirem produtos ou serviços, para que os seus empregadores (os “patrões”), ou eles próprios, tenham rendimentos adicionais. Será condenável que um colega, só porque trabalha numa farmácia, não possa indicar algum suplemento alimentar, se assim considerar adequado e estiver a seguir boas práticas? E um nutricionista que trabalhe num ginásio, fica automaticamente vedado de indicar acompanhamento personalizado (vulgo “PT”) para a prática de atividade física, com vista ao emagrecimento ou aumento da massa muscular? Afinal, o local de trabalho do nutricionista faz diferença na forma como se aceita, ou não, que recomende exercício ou um determinado suplemento alimentar? Consciente da importância de clarificar a atuação dos profissionais e salvaguardar o superior interesse dos clientes, a Ordem dos Nutricionistas publicou normas de atuação para os que trabalham em farmácias e em estabelecimentos destinados à prática de exercício físico e desporto. Mas nem isso parece suficiente a quem não interessa o que estes colegas podem fazer pela saúde e bem-estar da população.

Sejamos claros: em todas as atividades há bons e maus profissionais, pessoas e organizações mais ou menos corretas. Mas isso não é razão para aceitar uma suspeita quase permanente sobre a profissão ou a forma como é exercida, particularmente em alguns contextos específicos. Até porque existe uma Ordem, que desenvolve e aplica um conjunto de mecanismos para garantir o correto e transparente desempenho da profissão. Boatos lançados no anonimato das redes sociais ou denúncias vagas sobre supostos “interesses”, visam somente manchar a reputação de uma profissão que tanto faz pela Sociedade, procurando a sua descredibilização. Afinal, quem tem medo dos nutricionistas?

Rodrigo Abreu
Nutricionista – Managing Partner na Rodrigo Abreu & Associados
Fundador do Atelier de Nutrição

 

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