Nutrir famílias: Da conceção ao desenvolvimento da criança 1928

O “Programa 1111 dias”, desenvolvido pelas alunas finalistas da licenciatura em Ciências da Nutrição na NOVA Medical School Ana Gaspar, Inês Timóteo e Matilde Silva, venceu o prémio de Melhor Pitch de impacto no Sistema Nacional de Saúde (SNS) na cerimónia de graduação que decorreu no passado dia 26 de junho.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), quatro em cada dez portugueses apresenta condições crónicas e, segundo o Observatório Nacional da Diabetes, 8,8% das grávidas têm diabetes gestacional. O estudo AFRODITE determinou, em 2009, que entre 9 e 10% dos casais portugueses apresentavam infertilidade, e o EPACI Portugal 2012 atestou que uma em cada três crianças tem excesso de peso, um valor que cresce para 53,8% em toda a população da Área Metropolitana de Lisboa (IAN-AF 2015-2016).

“As crianças têm obesidade, o que prova os hábitos não tão saudáveis dos pais”, explica à VIVER SAUDÁVEL Matilde Silva, a apontar a “existência de valores de excesso de peso e obesidade nas mulheres portuguesas que, posteriormente, se sentiriam nos seus filhos”. A recém-licenciada refere que foi este o ponto de partida para a criação deste projeto, “desde a preconceção aos dois anos de idade”.

Por sua vez, Inês Timóteo lembra que existem “cada vez mais intervenções ao nível da nutrição comunitária nas escolas, desde o infantário e o primeiro ciclo, mas começam tarde demais”. Considera não existir uma prevenção por completo neste tema, “porque se a criança de casa não traz os hábitos alimentares, por muito que se esforce, tem dificuldade”, em particular, acrescenta, crianças com deficiência.

O objetivo do “Programa 1111 dias” é atuar “a priori junto dos pais, garantir que toda a programação metabólica que é necessária e que é tão importante nesta faixa etária é conseguida da melhor forma”. Isto porque, como refere Ana Gaspar, “a malnutrição é um fator determinante para a infertilidade”.

Partindo deste panorama, foi delineada uma estratégia de nutrição comunitária, com uma atuação nos cuidados de saúde primários “de forma a proporcionar um cuidado universal, independentemente do estatuto socioeconómico, em que todos pudessem ter acesso a esta literacia e educação alimentar de forma a não só promover saúde, mas também prevenir algumas doenças”, explica Inês Timóteo.

Começando na pré-conceção, onde a malnutrição “leva a uma menor taxa de conceção”, o acompanhamento continua durante a gravidez, uma vez que a promoção de uma alimentação saudável é importante, “não só para a própria mulher, como para o crescimento e desenvolvimento adequados do feto”, continua Matilde Silva, para defender um acompanhamento até aos dois anos de vida.

A ser implementado, o projeto atuaria tanto no público como no privado, garante Ana Gaspar, num “acompanhamento contínuo” a começar três meses antes da conceção do feto. Seria suportado num programa comunitário, com sessões de educação alimentar, acompanhamento nutricional, “tudo com foco em diversas fases importantes, porque existem diversas necessidades nutricionais específicas”, diz.

O trabalho com o pai também é fundamental, explica Inês Timóteo, ao reforçar que “a evidência científica já nos mostra que o esperma do homem tem uma relevância significativa na programação metabólica da criança. Não vale de nada estar só a criança ou só a mãe a mudar o estilo de vida, se depois o pai não acompanha esta força para a mudança”, diz.

“Temos todo o interesse enquanto grupo de conseguir transformar na prática o que pensámos em teoria, pelo que gostamos muito do reconhecimento que tivemos. É um programa que pode marcar a diferença”, concluem.

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