Novas oportunidades para o setor alimentar em 2024 938

Para o setor alimentar europeu, 2023 foi novamente dominado pela inflação. Os consumidores apertaram os cordões à bolsa, o que levou a uma diminuição do volume e a uma preferência significativa por produtos mais económicos. O crescimento da indústria (8,6%) ficou significativamente abaixo da inflação alimentar (12,8%) como refere o recente relatório “The State of Grocery Retail 2024: Europe – Signs of hope, elaborado pela McKinsey & Company e pela EuroCommerce, e que apresenta uma visão abrangente das principais tendências que irão moldar a indústria alimentar nos próximos anos.

O relatório, que tem por base um inquérito feito a mais de 30 líderes europeus do setor alimentar e a mais de 12.000 consumidores, em 11 países europeus, incluindo Portugal, mostra que os consumidores planeiam reduzir a compra de produtos mais económicos em 2024 face ao ano passado, e alguns grupos de clientes até pretendem começar a comprar produtos de valor mais elevado. Se esta tendência se mantiver, a McKinsey e a EuroCommerce esperam que o volume total de produtos alimentares na Europa volte a crescer no segundo semestre de 2024.

No entanto, olhando para além desta tendência, existe uma variação crescente entre os países europeus devido a demografias divergentes e diferentes taxas de recuperação do poder de compra, o que exigirá uma análise mais detalhada. Algumas das principais tendências para 2024 são:

  • Os retalhistas de produtos alimentares continuarão a sentir pressão sobre as margens, que é uma das três principais prioridades para 70% dos CEO inquiridos. Para continuar a proteger os consumidores contra aumentos de preços, os retalhistas provavelmente priorizarão as negociações com os fornecedores, incluindo a participação em grupos de compras, enquanto os esforços de consolidação persistirem em 2024.
  • Enquanto mais de 45% dos consumidores europeus afirmam que ainda procuram formas de poupar dinheiro ao fazer compras em 2024 (comparativamente a 51% no ano anterior), os primeiros sinais indicam que os agregados familiares com rendimentos mais altos estão novamente a comprar produtos de maior qualidade ou orgânicos em 2023, com uma maior intenção de comprar mais produtos de qualidade superior.
  • À medida que os consumidores passam mais tempo em movimento, o mercado do pronto a comer está a crescer. Apesar do ambiente inflacionário e da mudança dos consumidores para produtos mais económicos, o setor da restauração superou a indústria do retalho em cerca de 3 pontos percentuais. É expectável um maior crescimento nos próximos cinco anos no pronto a comer (~8%) em comparação com o retalho em geral (~3%) na Europa.
  • Foram feitos progressos na sustentabilidade, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Embora 29% das metas de redução de emissões de nível 1 e 2 para os 10 principais retalhistas em 2025 já tenham sido alcançadas, nenhum deles relata ainda o progresso nas metas de nível 3.
  • 20 dos 30 principais retalhistas europeus já têm um negócio de Retail Media (RM) estabelecido. 2024 será marcado por uma expansão ambiciosa da presença dos retalhistas no RM. A padronização, a medição do impacto e a diversificação de anúncios serão cruciais para torná-lo bem-sucedido, dada a oportunidade significativa e de alto retorno.
  • Por toda a Europa, os retalhistas deparam-se com um número de postos de trabalho por preencher mais elevado do que nunca, enquanto a média de permanência dos seus colaboradores diminui. Os empregadores de retalho mais atrativos oferecem carreiras, não apenas empregos, em combinação com o equilíbrio adequado entre trabalho e vida pessoal.
  • Daniel Läubli, diretor blobal de Retalho do Setor Alimentar da McKinsey, afirma: “O State of Grocery continua a apresentar desafios, mas o sentimento do consumidor está a melhorar e surgem novas oportunidades para os retalhistas. Vemos três prioridades estratégicas: equilibrar preços acessíveis com produtos que acrescentam valor, como opções saudáveis e alimentos prontos a comer; reduzir mias os custos e desenvolver e expandir o seu negócio de Retail Media.”

Já Christel Delberghe, diretora-geral da EuroCommerce, refere que “os retalhistas e grossistas servem os consumidores todos os dias e garantem a disponibilidade e acessibilidade dos alimentos. Trabalharam arduamente em 2023 para proteger os consumidores do pior da inflação, enquanto estavam sob uma pressão imensa de custos elevados, mudança dos consumidores para produtos mais económicos e pressão adicional dos governos para baixar os preços”. “Um Mercado Único que funcione bem, garantindo a competitividade das nossas empresas no futuro, é agora ainda mais essencial. O elevado número de postos de trabalho por preencher e a rotatividade dos funcionários também são tendências preocupantes que pretendemos combater, aumentando a consciencialização sobre as oportunidades de carreira, desenvolvimento de competências e atratividade do setor”, diz ainda.

O setor alimentar em Portugal

O mercado português registou crescimento em 2023, impulsionado pela alta inflação. Apesar da diminuição dos volumes, os consumidores começaram a optar por produtos de maior qualidade. No entanto, as vendas reais diminuíram novamente, ficando abaixo dos níveis de 2019.

Segundo Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey & Company em Portugal, “a tendência dominante em 2023 em toda a Europa foi a inflação, que captou a atenção do setor alimentar. Em resposta ao aumento dos preços, os consumidores voltaram a ajustar os seus gastos, tal como já tinham feito no ano anterior, o que levou a uma queda no volume e nas operações, embora Portugal tenha contrariado esta tendência com um aumento de 0,4% na cesta de compras dos consumidores”. A especialista destaca ainda que “sobre o crescimento de 8,2% do setor de retalho de alimentação em Portugal, os supermercados cresceram mais 9,5% relativamente a 2022, um incremento relativamente rápido. As marcas próprias continuaram a crescer, com um aumento de 3,2% em 2023 que eleva a quota de mercado para os 45,4%”.

Os supermercados foram os principais impulsionadores do crescimento em valor e ganharam quota de mercado, enquanto o segmento online teve um desempenho estável e os discounters não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento do mercado.

  • Receita Online: Houve uma ligeira diminuição na receita online em Portugal em 2023, com um declínio de 0,4% em relação ao ano anterior. A participação de mercado também diminuiu em 0,2 pontos percentuais, atingindo 2,3%.
  • Desempenho dos discounters: Os retalhistas discounters registaram um crescimento de 4,7%. Porém, não acompanharam o crescimento do mercado, resultando numa perda de quota de 0,6 pontos percentuais, agora situada em 17,9%.
  • Supermercados: Os supermercados registaram um crescimento relativamente rápido de 9,5% relativamente a 2022 e ganharam quota de mercado, com um aumento de 0,8 pontos percentuais.
  • Vendas Totais: As vendas aumentaram 8,2% em relação ao ano anterior, impulsionadas por uma inflação continuamente eleveda (10,4%), que compensou uma pequena perda de volume (2,4%). Os consumidores deixaram de optar por produtos mais económicos. No entanto, as vendas reais diminuíram 2% e estão 3,1% abaixo dos níveis de 2019.
  • Mercado de Serviços de Alimentação: O mercado de serviços de alimentação continuou a crescer (14,2% em relação a 2022), agora 15,9% acima das vendas de 2019.
  • Quota de Marcas Próprias: A quota de mercado das marcas próprias continuou a crescer, aumentando em mais 3,2 pontos percentuais em 2023, alcançando 45,4%.
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