Consumo continuado de mirtilo tem um forte impacto no fígado 1734

Uma equipa de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) descobriu que “o consumo continuado de mirtilo em doses diárias de cerca de 240 gramas tem um forte impacto hepático, fornecendo pistas importantes para orientar um consumo saudável e seguro destas bagas muito ricas em antioxidantes”.

O estudo foi publicado na revista Pharmaceutics, e é da autoria de Flávio Reis e Sofia Viana, do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR), e de Sara Nunes, aluna de doutoramento, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC).

A descoberta ocorreu no decorrer de um estudo que pretendia avaliar os possíveis efeitos benéficos do sumo de mirtilo no contexto da pré-diabetes, em modelo animal.

“Considerando a composição fitoquímica enriquecida do mirtilo, numa diversidade de compostos bioativos que parecem poder conferir inúmeros efeitos protetores em distintas condições, pareceu-nos muito pertinente perceber igualmente qual o impacto do consumo deste “superalimento” de forma prolongada, numa condição saudável”, explicam os coordenadores do estudo, Flávio Reis e Sofia Viana.

Para chegarem a esta conclusão, os investigadores avaliaram um conjunto de parâmetros metabólicos, com destaque para o fígado, e em particular para as funções mitocondriais, em ratos adultos. Estes foram submetidos durante 14 semanas a um consumo regular de sumo natural de mirtilo, o equivalente a um copo e meio de sumo por dia num humano.

Ao analisar os resultados desta experiência, “nomeadamente ao nível da mitocôndria – a casa energética da célula – hepática”, observou-se que nos ratos pré-diabéticos «havia uma proteção da esteatose hepática (acumulação de gordura no fígado) e um impacto enorme ao nível da mitocôndria».

No caso dos ratos saudáveis, verificou-se que “o consumo de sumo de mirtilo não teve impacto no perfil metabólico e não foram registadas alterações a nível intestinal. No entanto, o impacto hepático foi surpreendente, particularmente na função mitocondrial, semelhante a um efeito de uma dieta hipercalórica”, explicou Sara Nunes, na nota divulgada pela UC.

Os resultados observados nos ratos saudáveis sugerem que o consumo continuado de mirtilo força uma reprogramação metabólica, cujas consequências (benéficas ou nefastas) permanecem por esclarecer.

A equipa acredita que «o forte impacto hepático gerado pelo consumo continuado de mirtilo pode permitir prevenir ou atenuar contextos de doença, como, por exemplo, a diabetes e a obesidade, mas não podemos descartar a hipótese de poder provocar algum tipo de desequilíbrio e ter consequências nocivas para a saúde», explica o comunicado da UC.

Agora, o estudo vai centrar-se em clarificar ambas as hipóteses, de modo a contribuir para um consumo de mirtilo seguro, «no sentido de melhor elucidar se esta resposta adaptativa resultante do consumo prolongado de mirtilo se traduzirá em benefícios ou se, pelo contrário, poderá estar associada a efeitos nefastos. No contexto dos hábitos atuais de uma parte da população, esta investigação reveste-se de particular relevância», explicam Flávio Reis e Sofia Viana.

Segundo os investigadores “os benefícios do mirtilo para a saúde estão intimamente relacionados com a atividade antioxidante, principalmente devido ao seu alto teor em compostos fenólicos. As suas reconhecidas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias são de certa forma responsáveis pelo aumento do consumo ao longo dos últimos anos”, salientando que «alguns trabalhos têm alertado para possíveis efeitos adversos resultantes de um consumo descontrolado e excessivo de certos produtos antioxidantes, incluindo os enriquecidos em compostos fenólicos».

Esta investigação faz parte de um projeto de investigação que conta com a parceria da Cooperativa Agropecuária dos Agricultores de Mangualde (COAPE) e da MIRTILUSA (Sever do Vouga), focado no potencial terapêutico da planta do mirtilo no seu todo: bagas (casca e polpa) e folhas.

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