Portugal é o país mediterrânico com a maior pegada alimentar “per capita” 1938

De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Aveiro (UA), e publicado na revista científica “Science of the Total Environment“, Portugal é o país mediterrânico com a maior pegada alimentar per capita.

O estudo denominado por “Transição alimentar sustentável em Portugal: uma avaliação da pegada das escolhas alimentares e das lacunas nas políticas de alimentação nacionais e locais”, é da autoria de investigadores da UA, tais como Sara Moreno Pires, Armando Alves e Filipe Teles, e, da Global Footprint Network.

Esta investigação indica que o peso da pegada ecológica ronda os 30% na alimentação, 20% nos transportes e 10% à habitação.

“Portugal importa 73 por cento dos alimentos e só o peixe e a carne ocupam cerca de metade do peso da pegada alimentar nacional”, indica o estudo da UA.

Aliás, Portugal é o terceiro maior consumidor de peixe do mundo, com cerca de 61,7 quilos consumidos por pessoa em 2017 e 60 por cento da biocapacidade para produzir esse pescado vem de outros países. A elevada intensidade da Pegada Ecológica de peixes como o atum, espadarte e bacalhau (não considerando a Pegada associada ao seu transporte) são outra evidência, que aliados à sua força cultural na alimentação portuguesa, salientam ainda mais o impacto elevado do consumo de peixe na Pegada Alimentar.

Mas, Portugal depende também da biocapacidade de países estrangeiros para produzir recursos alimentares, de modo a satisfazer a procura dos portugueses, sendo as categorias mais dependentes as de “pão e cereais” (em que se importa quase 90 por cento dos hectares globais necessários à sua produção), “açúcar, mel, doces, chocolate, etc.” (com um importação na ordem dos 80 por cento) ou “gorduras alimentares” (com cerca de 73 por cento).

Grande parte da biocapacidade necessária para a nossa alimentação provém de países como a Espanha, França, Ucrânia ou mesmo China e Senegal, o que implica uma pressão e uma dependência desses ecossistemas.

Aliás, a pegada ecológica nacional, por habitante, é superior à biocapacidade do país ou do próprio planeta, o que significa que se todas as pessoas no mundo consumissem como os Portugueses, precisaríamos de 2,3 planetas Terra.

“A pegada alimentar avalia em hectares globais (gha) a quantidade de recursos naturais que necessitamos para produzir o que comemos num ano. Sabendo que o país tem anualmente um ‘orçamento natural’ de 1,28 gha por habitante (valor de 2016), percebemos que só para nos alimentarmos “gastamos” 1,08gha, ou seja, 84 por cento desse orçamento”, explicou Sara Moreno Pires, professora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, no portal da UA.

A investigadora acrescentou ainda que quiséssemos depender exclusivamente da biocapacidade de Portugal para nos alimentarmos, “ficaríamos com um saldo de 0,20 gha para todas as restantes atividades de consumo (transporte, habitação, energia, vestuário, etc.), se não quiséssemos ter défice ecológico”.

Por todos estes motivos, é que Portugal é o pior país, entre os 15 países do Mediterrâneo, no que diz respeito à Pegada Alimentar.

Mas o estudo apresenta também conclusões sobre a insustentabilidade dos padrões alimentares dos portugueses e a ainda frágil estrutura de políticas públicas para inverter esta tendência.

“Urge mudar hábitos alimentares e ter tolerância zero quanto ao desperdício”, explica Sara Moreno Pires garantindo que “o papel das políticas públicas é igualmente crítico para promover sistemas alimentares mais sustentáveis, desde a produção agrícola, ao processamento, à distribuição, ao consumo ou ao reaproveitamento dos alimentos, e para envolver todos nesta mudança”.

Tendo isso em conta, o estudo identifica um conjunto de pontos fortes e fracos nas políticas de alimentação em seis cidades portuguesas: Almada, Bragança, Castelo Branco, Guimarães, Lagoa e Vila Nova de Gaia.

O estudo destaca a sensibilização da população para a Pegada Ecológica da alimentação através de Calculadoras Municipais da Pegada Ecológica disponíveis nos sites destas Câmaras Municipais, a promoção de hortas urbanas, hortas sociais e hortas pedagógicas, ou iniciativas inovadoras como o Banco de Terra em Guimarães, através da sua Incubadora de Base Rural, ou a investigação agroalimentar, promovida pelo Município de Castelo Branco em parceria com o CATAA – Centro de Apoio Tecnológico Agroalimentar.

Das principais fragilidades identificadas destacam-se a falta de recursos humanos adequados e com conhecimento especializado para trabalharem estas temáticas (com grupos multidisciplinares de profissionais qualificados, de nutricionistas a engenheiros florestais e agrícolas) ou de estruturas municipais para a promoção integrada de uma política de alimentação.

O estudo mostra que é necessário investir em mais informação (que identifique e avalie os impactos das iniciativas locais), mais recursos humanos, bem como na capacidade dos governos locais para promoverem sistemas alimentares equitativos, resilientes e sustentáveis.

Pode consultar o estudo aqui.

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