Importância de Selénio na mesa dos Portugueses 2057

O selénio foi descoberto pelo químico Jons Jakob Berzelius em 1871, contudo só em 1979 foi reconhecido como essencial ao ser humano e importante na nutrição. Nos anos oitenta foi integrado no grupo dos oligoelementos que compõem as tabelas de composição de alimentos. Desde então tem vindo a ser estudado em muitos laboratórios de composição alimentar como o Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

Este micronutriente pode ser encontrado nos alimentos e nos sistemas biológicos, numa grande variedade de formas químicas. O seu metabolismo, transporte e biodisponibilidade são dependentes da forma química em que se encontra presente. Esta pode ser na forma inorgânica (selenito e selenato) e/ou nas espécies inorgânicas (selenoproteínas, formas metiladas e selenoaminoácidos tais como a selenometionina e a selenocisteína).

Um aporte adequado de selénio pode conduzir a um melhor desempenho do sistema imunitário e da atividade antioxidante, com implicações positivas, por exemplo, no tratamento e/ou prevenção do cancro ou na retardação da progressão de doenças do foro neurológico, como Alzheimer. A dose de selénio ingerida pode afetar diferentes funções genéticas e celulares associadas à imunidade, metabolismo energético, entre outras, provocando alterações no genoma que, por sua vez, podem conduzir ao aparecimento de algumas doenças por excesso de selénio como a Selenose ou por deficiência como a Doença Kashin-Beck, doenças da tiroide e até alguns tipos de cancro.

A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) estabelece a dose diária recomendada (DDR) de selénio e a dose máxima admissível (DMA), sendo a diferença entre ambas pequena. Segundo a EFSA, a DDR para homens e mulheres (>14 anos) é de 55 µg/dia, a qual pode ser facilmente atingida através da alimentação. Por exemplo o consumo de 100g de cavala poderá contribuir entre 44 a 59% da DDR. Já a DMA, para o mesmo grupo etário, é de 400 µg/dia, podendo ocorrer efeitos adversos na saúde ao exceder este valor.

Em Portugal, segundo o estudo piloto de dieta total português (TDS) realizado pelo INSA no âmbito do projeto TDS EXPOSURE financiado pela União Europeia, as principais fontes alimentares de selénio são castanha do Brasil, carne, pescado, ovos, nozes, flocos de trigo e cereais fortificados. Contudo, a biodisponibilidade deste micronutriente nos alimentos ainda não é bem conhecida, tal como a influência exercida pelo tratamento culinário.

O impacto do tratamento culinário no teor de selénio em pescado compreende um dos objetivos do projeto Mersel-fish que se encontra a ser desenvolvido no âmbito de uma colaboração internacional entre Portugal (INSA e IST) e França (ANSES).

Já no âmbito do Projeto Newfood4thought, está a ser estudado in vitro o impacto do selénio, juntamente com a Vitamina B12 e Folatos, na remissão/prevenção da formação de placas de β-amilóide, em células neuronais. A cinética das reações entre as espécies químicas de selénio e a formação de β-amiloides será um passo importante para depois se partir para ensaios mais complexos in vivo com ratos portadores do gene ApoE14, envolvido no declínio cognitivo. Estes trabalhos, com resultados promissores, partiram do consenso que já gerou a dietoterapia na prevenção ou remissão de sintomas das doenças que envolvem a comunicação entre células neuronais.

Andreia Rego
Departamento de Alimentação e Nutrição
Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge

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