Covid-19: Comissão defende que a vacinação foi a mais escrutinada da história da medicina 1316

O coordenador da comissão técnica de vacinação contra a covid-19 esclareceu esta quarta-feira que todas as vacinas usadas em Portugal foram testadas e disse que esta tinha sido “a intervenção médica mais escrutinada na história da medicina”.

Ouvido esta quarta-feira na Comissão Parlamentar de Saúde sobre o ponto de situação do processo de vacinação, designadamente sobre o contributo deste processo para o número de mortes evitáveis, Luis Graça afirmou que, no que se refere ao contributo da vacinação covid-19 para as mortes evitáveis, os dados disponíveis são “absolutamente claros e consensuais”.

“Há muitos estudos feitos sobre isso e esses estudos são unânimes em mostrar o grande impacto da vacinação para prevenir mortes, sobretudo nas populações mais vulneráveis”, afirmou o responsável.

Depois de distribuir documentação sobre o assunto aos deputados, Luis Graça sublinhou a diferença entre a situação vivida em janeiro de 2021 – “a maioria da população não estava protegida pela vacinação” -, quando houve o pico de incidência com a variante Alfa, e o período posterior de infeção pela variante Delta, que na Índia “foi devastadora”.

“A diferença entre o período em que tivemos o surto de Alfa e o tempo em que tivemos o surto de Delta é que nessa altura já havia 50% da população elegível vacinada”, afirmou, para explicar a redução nos casos de internamento e óbitos registados.

Lembrando que a estratégia foi dar prioridade aos mais vulneráveis – tanto por causa da idade como por causa de doenças que aumentassem o risco de problemas se a pessoas contraísse o vírus -, Luís Graça destacou: “o facto de essas pessoas estarem protegidas fez toda a diferença no impacto no sistema de saúde e no impacto na mortalidade e na morbilidade”.

Respondendo a questões colocadas pela deputada Rita Matias, do Chega, que disse que nem todas as vacinas tinham sido testadas e que criticou o facto de quem questionasse a eficácia das vacinas era rotulado como “perigo para a sociedade”, Luis Graça contrariou as posições, afirmando: “Ao contrário do que disse, todas as vacinas em circulação foram sujeitas a ensaios clínicos”.

Sobre ao efeitos adversos, questão igualmente suscitada pela deputada do Chega, o responsável explicou que, para excluir que algum efeito adverso não seja escrutinado, tudo se regista, e deu um exemplo de alguns ensaios no Brasil com a vacina da AstraZeneca: “Entre os efeitos adversos estão incluídos dois casos de pessoas que morreram, uma delas foi por homicídio”.

“Esta foi a intervenção médica mais escrutinada na história da medicina e isso dá uma confiança crescente sobre a segurança das vacinas”, insistiu.

Além disso, disse o responsável – respondendo igualmente a Rita Matias -, “não é verdade que [no início do processo] não se questionava”.

“Os cientistas e os médicos estão treinados para questionar. O lema do Instituto de Medicina Molecular [onde Luis Graça trabalha] é ‘procuramos perguntas’”, afirmou, acrescentando: “O nosso trabalho é questionar e arranjar forma de responder às perguntas”.

Sobre a morbilidade e mortalidade em pessoas jovens apontada por Rita Matias, o responsável da comissão de vacinação contra a covi-19 respondeu: “Nas pessoas com 24 anos, se nada fizermos, entre adolescentes, jovens adultos e mulheres, num milhão destas pessoas (…), em qualquer semana do ano, há 29 que vão às urgências com diabetes, cinco com tiroidite (…), duas com crise de esclerose múltipla”.

“São dados americanos, mas imagino que sejam os mesmos em Portugal. Isto é o que acontece habitualmente”, afirmou o responsável, acrescentando: “se temos a vacinação de um grande número de pessoas, vai haver um grande número de intercorrências que vão acontecer invariavelmente e todas vão estar listadas e no relatório [dos efeitos secundários]”.