Células estaminais: perspetivas terapêuticas promissoras nas doenças inflamatórias 804

A inflamação é caraterizada por ser uma parte normal do processo de cura quando o corpo sofre uma lesão ou infeção. A inflamação nas células ou tecidos pode levar a sentir calor ou até mesmo perda de funções.

No entanto, quando se fala em inflamação crónica, esta poderá contribuir para algo mais grave que pode levar a lesões e doenças nos tecidos. A inflamação crónica pode persistir durante meses ou anos e é um fator que contribui para mais de metade das mortes em todo o mundo.

Segundo uma revisão da literatura científica conduzida por investigadores do National Institute of Environmental Health Sciences demonstrou que o ambiente também desempenha um papel na inflamação, que está associada a doenças como: Doenças autoimunes, como artrite reumatóide; Doenças cardiovasculares, como hipertensão e doenças cardíacas; Distúrbios gastrointestinais, como doença inflamatória intestinal, doença de Crohn e colite ulcerosa; Doenças pulmonares, como asma; entre outras. Desta forma, existem vários fatores e patologias que contribuem para o desenvolvimento de alterações inflamatórias podendo levar ao desenvolvimento de inflamação crónica.

Qual a ligação entre o cordão umbilical e a inflamação?
O cordão umbilical é uma fonte rica em células estaminais que, atualmente, podem ajudar a tratar cancro, doenças do sangue e condições inflamatórias. Aliás, as células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical apresentam características promissoras, como baixa imunogenicidade, capacidade de migração para locais de inflamação e propriedades imunomodulatórias, o que tem despertado um interesse relevante nas comunidades científicas e médicas.

As células estaminais mesenquimais derivadas do cordão umbilical revelaram seu papel fundamental na regulação imunológica, oferecendo perspetivas terapêuticas promissoras para doenças imunológicas e inflamatórias. Inúmeros estudos têm sido conduzidos para estudar o papel das células estaminais na inflamação. Por exemplo, Audrey Cras e a sua equipa de investigadores tentaram perceber e explorar as propriedades terapêuticas encontradas nas células estaminais do tecido cordão umbilical de forma a criar um produto de terapia avançada para tratar doenças imunes e inflamatórias. Este estudo foi publicado em 2021 na revista científica Stem Cell Research & Therapy, onde usaram células estaminais que foram isoladas a partir tecido do cordão umbilical. Estas células foram estimuladas com IFNγ e TNFα. Após este processo as células foram avaliadas em várias características como por exemplo: a proliferação, o imunofenótipo, a expressão de marcadores de ativação e a inibição da proliferação de células T. Os resultados foram muito promissores uma vez que as células estaminais mesenquimais diminuíram significativamente o ambiente inflamatório, permitindo assim desenvolver um produto de terapia avançada experimental baseado em células estaminais de tecido do cordão umbilical autorizado para uso clínico. Os resultados deste estudo demonstraram que um ambiente inflamatório preserva as propriedades biológicas das células estaminais com uma melhoria em suas funções imunomoduladoras.

Podemos perceber que com o aumento do conhecimento sobre as células estaminais do tecido do cordão umbilical, que normalmente são descartadas à nascença, que estas células apresentam características que as diferenciam e as potenciam para serem utilizadas em diversas frentes na melhoria de sintomas de várias doenças, podendo atrasar a sua evolução e/ou agressividade. Com isto, é, de facto, pertinente pensar duas vezes sobre a temática/decisão de criopreservar ou descartar as células do cordão umbilical.

Andreia Gomes – Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida