A Literacia em Saúde Salva Vidas, Um Planeta Saudável Terá Pessoas Saudáveis 669

A Medicina Interna Comemora o Dia Mundial Da Saúde 2022

O Dia Mundial da Saúde, a 7 de abril, foi escolhido em 1948, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) por, nessa data, se ter realizado a primeira assembleia desta organização. As celebrações iniciaram-se em 1950 e todos os anos é escolhido um mote, desenvolvendo atividades que levem à promoção da saúde das populações. O lema de 2022 é “our planet, our health”, com uma tradução livre para “o nosso planeta, a nossa saúde”, relacionando diretamente as questões ambientais à nossa saúde e bem-estar. A emergência climática tem sido lembrada, repetidamente, pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, como fez recentemente, no final de 2021, na Conferência do Clima sobre Alterações Climáticas – COP26. Para além das óbvias implicações que o clima tem na nossa saúde, nos últimos anos têm-se levantado diversas questões sobre o total impacto que as alterações ambientais têm sobre a saúde humana.

Para o sucesso deste mote, e para dar resposta aos desafios que vão surgido, é imprescindível continuar a desenvolver um outro vetor fundamental, a literacia em saúde. Para além da informação, compreende competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para ganharem acesso a compreenderem e a usarem informação de formas que promovam e mantenham boa saúde (OMS, 1998). Segundo dados da Direção Geral da Saúde, publicados no seu sítio eletrónico em novembro de 2021, Portugal está entre os países com melhor nível de literacia em saúde, onde 65% da população terá um nível suficiente. No entanto, parece-nos, ainda assim, necessário manter um trabalho contínuo dos médicos na promoção da literacia, face à proliferação de acesso a plataformas de divulgação de informação e ao surgimento de tudólogos, tornando-se imperioso que sejam os profissionais mais habilitados a mediar essa passagem de informação, evitando mitos, desinformação e aproveitamento de crenças para obtenção de proveitos económicos. A aposta da medicina moderna, tornando as pessoas mais instruídas, levará a pessoas mais exigentes e mais capacitadas para tomar as melhores decisões em relação a si, aos seus hábitos e ao ambiente, para além da participação ativa na tomada de decisões em questões concretas da saúde e doença (rastreios, exames auxiliares e opções terapêuticas, curativas e paliativas).

Quase com a mesma idade da OMS, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), fundada em 1951, tem vindo a fazer uma abertura à sociedade civil. Os internistas já deixaram há muito o paradigma da obtenção da cura, para o entendimento da pessoa de forma holística, sabendo que deverão integrar todas as suas dimensões no processo de trabalho e nos objetivos a alcançar. Disso exemplo é um texto recentemente publicado por Luís Campos na revista científica da SPMI, o “Compromisso dos Internistas Portugueses” (Campos, L. RPMI 2022), em 35 pontos. Neste dia, que hoje comemoramos, realçaria os pontos 4, 5 e 7, onde se foca a prevenção da doença, a defesa do ambiente e a luta contra as alterações climáticas, como cruciais para evitar a deterioração da saúde e mortes, e a literacia em saúde.

A SPMI começou a organizar a Festa da Saúde, com a primeira edição em 2017 em Lisboa, em 2018 no Porto e em 2019 em Viseu, estando a edição seguinte prevista para Aveiro, nos dias 2 e 3 de julho deste ano, depois de dois adiamentos por conta da Pandemia. É um formato em que existe uma interação com a população, dando a conhecer os vários programas de promoção da saúde, esclarecendo dúvidas e fazendo alguns rastreios, ao mesmo tempo que são promovidas atividades desportivas e culturais, ou a confeção de refeições saudáveis enquanto se conversa sobre temas que foquem a promoção de melhor ambiente e melhor saúde.

É esta conjugação de melhoria da literacia da população com melhores atitudes perante si e a envolvente, que se espera que conduzam à celebração de um planeta melhor, pessoas mais saudáveis e mais felizes, que certamente cuidarão de si e da sua casa, o nosso planeta.

Mafalda Santos – Especialista em Medicina Interna |Secretária-Adjunta da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna