Ordens dos Farmacêuticos, Enfermeiros e Médicos defendem que o SNS não pode acabar 766


06 de abril de 2018

Responsáveis de várias áreas da Saúde coincidiram ontem na importância e necessidade de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se mantenha, mas também defenderam melhorias e mais financiamento, sendo a falta de apoios o maior problema.

Num debate organizado pela consultora FDC sobre a pergunta “E se o SNS acabar?” responderam que «não pode acabar» as bastonárias das ordens dos Farmacêuticos e dos Enfermeiros, um dirigente da Ordem dos Médicos, um diretor da APIFARMA, e ainda o diretor de uma consultora na área da Saúde e antigo secretário de Estado Manuel Delgado.

Todos concordaram que o SNS é fundamental, «um pilar da democracia e da coesão», como disse Ana Rita Cavaco, da Ordem dos Enfermeiros, ou «a maior conquista que chegou com o 25 de abril», como disse João de Deus, pela Ordem dos Médicos.

Manuel Delgado, que se demitiu do Governo na sequência do escândalo que envolveu a associação Raríssimas, defendeu também o SNS como sendo um modelo que não sendo perfeito é o menos mau, e porque é o único que «garante minimamente a universalidade e a equidade e que menos induz o consumo desnecessário de recursos».

Para o diretor da APIFARMA, Heitor Costa, o SNS «tem forças que o fazem único, universal, transversal e um garante da possibilidade de um contínuo de cuidados». Maria de Belém Roseira, responsável pela revisão da lei de bases da Saúde, haveria de dizer depois do SNS que a grande virtuosidade do sistema é a correção das desigualdades.

O SNS «é o único serviço público criado após o 25 de abril que nos compara adequadamente com outros países europeus, que nos enche de orgulho, não vamos acabar com ele, vamos é saber como o melhorar», disse Maria de Belém.

Como melhorar foi a outra parte das intervenções de cada responsável, num debate que teve a participação de três jornalistas que trabalham habitualmente a área da Saúde e que admitiram que há anos ouvem as mesmas queixas e propostas.

Que o SNS é «claramente subfinanciado», como disse Heitor Costa, que se podia fazer melhor, nomeadamente em gestão, como acrescentou Manuel Delgado, que em Portugal não se olha para a Saúde «como um investimento mas como uma despesa», como frisou João de Deus.

Uma “harmonia” entre sistemas privados e públicos de Saúde era importante, avançou o representante dos médicos, porque, disse, «não duplicar exames era importante». Ana Paula Martins já tinha pedido mais financiamento para o SNS. E disse que nos fogos florestais do ano passado, quando tudo funcionou mal, o que melhor funcionou foi o SNS.

E Ana Rita Cavaco, mais crítica, acrescentou à falta de dinheiro a falta de camas nos hospitais, a falta de enfermeiros, o país que funciona por «castas profissionais» que permite que um médico recuse um lugar (no interior do país por exemplo), a desumanização, a falta de material, de lençóis ou cobertores, de medicamentos também. «Mas para os bancos há sempre dinheiro», lamentou.

Ainda assim, apesar de todas as queixas, o SNS é para continuar. «Somos um país que não pode deixar cair o SNS», já tinha dito Paula Martins.

E depois porque ao SNS vai parar tudo, «a pobreza, a fome, o frio, o analfabetismo e a iliteracia», como diria no encerramento Maria de Belém Roseira.

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