Investigadores estudam relação entre sono e doenças cardiovasculares 699


17 de maio de 2017

Investigadores portugueses e latino-americanos iniciam este mês um estudo que pretende identificar “alvos genéticos” responsáveis pela relação entre alterações do sono e o risco cardiovascular, anunciou ontem à “Lusa” Miguel Meira e Cruz.

«O estudo consiste em identificarmos alvos genéticos que podem ser responsáveis pela mediação inflamatória que é partilhada entre as doenças do sono e algumas doenças cardiovasculares», disse o presidente da Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono (APCMS).

«Acredita-se que essa pode ser uma área de convergência entre duas situações que partilham fatores de risco e pode dar-nos algumas pistas para a ligação entre estas duas condições», acrescentou o especialista em medicina do sono.

O estudo, com a duração prevista de três anos, é dividido em várias etapas, sendo a primeira um rastreio populacional, com ações de rastreio sobre a pressão arterial e qualidade do sono, que arranca este mês, “Mês do Coração”.

O rastreio pretende alertar a população para a ligação entre o sono inadequado e o risco cardiovascular e confirmar a relação entre essas duas condições.
«Depois dessa observação e da confirmação que existe essa ligação vamos debruçar-nos sobre alguns mecanismos que podem estar associados a isso», explicou.

Hoje sabe-se que o sono perturbado aumenta o risco de erros e acidentes, diminui a imunidade e as defesas gerais e aumenta a probabilidade de desenvolver doenças metabólicas e cardiovasculares.

«Mas os mecanismos são ainda pouco conhecidos e controversos, sobretudo quando se sai da área da apneia do sono, doença que claramente afeta a morbilidade e mortalidade cardiovascular», frisou.

Meira Cruz lembrou que «as doenças cardiovasculares mantêm-se como primeira causa de morte no mundo e em Portugal, e o sono adequado é cada vez mais raro, com tendência a piorar».

«Sabendo que a quantidade e a qualidade do sono afetam de forma independente a função do sistema cardiovascular e que muitos dos seus determinantes têm envolvidos fatores hereditários, torna-se compreensível que algumas respostas para melhorar o panorama da saúde em geral e cardiovascular em particular possam estar nos genes, mas também no que designamos de epigenética», referiu.

O investigador responsável pelo projeto, Christian Ramos, sublinha que «existem diversas questões sobre esta relação que ainda não têm resposta, nomeadamente no que respeita a aos mecanismos genéticos e moleculares comuns».

«Existem alterações nos processos de transcrição e tradução de genes que influenciam esta relação e alguns aspetos particulares associados à expressão genética ou ao seu silenciamento, podem ajudar-nos e compreender melhor os mecanismos básicos que nos permitirão eventualmente otimizar terapêuticas», adiantou Christian Ramos.

O projeto internacional “Sono-miRs” reúne o Instituto de Biociências e Sistemas Integrativos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Divisão Cardiovascular da Universidade Federal de São Paulo, o Grupo de Função Autonómica do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, a APCMS, a Somnus Clinic e a Life Beat.

Isabel Rocha, responsável pelo Laboratório de Função Autonómica Cardiovascular da Faculdade de Medicina de Lisboa e participante no projeto, assume que o caminho pode ser longo, mas promissor, e defende que todos os passos que possam ser dados são de aproveitar.

«Existem alguns obstáculos metodológicos que terão que ser ultrapassados, nomeadamente no que respeita à transferência do conhecimento obtido nos modelos animais, para os humanos, mas os ganhos serão provavelmente significativos com impacto real na saúde individual e coletiva».

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