Quando têm de escolher entre um hambúrguer do estilo fast food ou um prato nutricionalmente mais equilibrado, em que os vegetais ocupam metade do prato, a maioria das crianças não pensa duas vezes e escolhe a primeira opção. Este fator associado, por exemplo, a dinâmicas familiares de alimentação pouco saudáveis, à inexistência de atividade física e a estilos de vida inadequados podem acabar por resultar num aumento de casos de obesidade infantil.
A oferta crescente de alimentos pouco saudáveis e processados a preços competitivos tem também uma forte influência nas escolhas alimentares das famílias. “O aspeto económico é muito importante, já que para algumas famílias não é fácil comprar peixe ou mesmo alguns vegetais. O preço do pão de forma embalado chega a ser menor que o pão do dia e uma refeição pré-confecionada é muitas vezes mais barata do que as opções mais saudáveis”, aponta Raquel Soares, médica pediatra no Hospital Pediátrico de Coimbra da ULS de Coimbra.
Por outro lado, as crianças e adolescentes são frequentemente expostos a publicidade de alimentos pouco saudáveis através de plataformas digitais, redes sociais e programas de televisão. Apesar da publicidade dirigida a menores de 16 anos estar proibida desde 2019, mais de metade dos anúncios publicitários na televisão e conteúdos online sobre alimentos (65%) são pouco saudáveis, segundo um estudo da DGS.
Os mais novos, admite a nutricionista Inês Tomada, nutricionista do Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Porto, “são especialmente permeáveis a influenciadores digitais”. E embora possam encontrar nas redes sociais “páginas muito interessantes e educativas, com informação credível sobre nutrição e alimentação – nomeadamente perfis de profissionais de saúde -, no mesmo ecrã outros perfis aleatórios surgem a promover produtos alimentares pouco saudáveis, muitas vezes disfarçados de ‘opções rápidas e práticas’, ou mesmo publicidade a fast food, incentivos à prática de dietas extremas e a desafios alimentares prejudiciais, assim como à normalização do consumo de produtos alimentares ultraprocessados”, alerta.
Ecrãs e sedentarismo
A par das más escolhas alimentares surge a diminuição da atividade física. “Com o aumento do uso da tecnologia e do tempo gasto em atividades sedentárias, como televisão ou jogar videojogos”, lembra Mónica Pitta Grós Dias, nutricionista no Hospital de Santa Maria. “As crianças passam muito tempo sentadas à frente dos ecrãs sem se exercitarem”, trocando o ar livre, as bicicletas e o futebol pela televisão, os videojogos e o smartphone.
Ora, a falta de atividade física combinada com uma dieta inadequada pode aumentar o risco de desenvolverem excesso de peso ou mesmo obesidade, pelo que “é fundamental que pais e educadores incentivem a um equilíbrio saudável, promovendo hábitos alimentares adequados e a prática regular de exercício físico, reduzindo o contacto com o mundo cada vez mais digital”, defende a nutricionista.
Além disso, acrescenta a nutricionista Inês Tomada, a visualização de ecrãs perto da hora de dormir afeta o sono: “Sabemos hoje que um número de horas de sono insuficiente associa-se a desequilíbrios hormonais, com consequências no apetite, refletindo-se numa maior ingestão de alimentos densamente energéticos”.
Perante este cenário, é essencial tomar medidas preventivas para a obesidade durante a infância e adolescência, através da aquisição de hábitos alimentares saudáveis aliados à prática regular de atividade física e à redução do tempo em frente a ecrãs (televisão, computador, telemóvel). Neste sentido, garante Raquel Soares, “em cada consulta de vigilância de saúde, a promoção da alimentação saudável e atividade física deve estar presente nos planos do médico e enfermeiro, que estão responsáveis por dirigir estes ensinos aos cuidadores das crianças”.
“Obesidade infantil: um problema que vai (muito) além da balança” é o artigo de destaque da última edição da VIVER SAUDÁVEL, afeta aos meses de maio e junho, já disponível. Leia o artigo completo na Revista dos Nutricionistas.




