O caminho para uma alimentação mais saudável e sustentável não se faz sozinho – exige alianças, mudanças de mentalidades e decisões corajosas. E, no centro dessa transformação, está o nutricionista.
“O nutricionista tem uma posição estratégica e privilegiada, podendo apoiar esta transformação profunda do modelo alimentar atual”, que “é uma transformação cultural, tecnológica, social e ambiental”, declara a nutricionista Teresa Carvalho, coordenadora da Knowledge Division da PortugalFoods. Deste modo, é o profissional de saúde que pode “traduzir para o cidadão comum a evidência científica com medidas concretas e práticas” e “adaptar as recomendações às necessidades individuais e aos diferentes contextos”, exemplifica.
Mais do que isso, “tem a possibilidade de educar o consumidor e promover mais literacia alimentar, ajudando o cidadão a fazer escolhas conscientes e informadas”. Pode, ainda, “participar e apoiar no desenho de intervenções e políticas públicas em prol de uma alimentação mais saudável e sustentável nos diferentes espaços da sociedade, como escolas ou lares”, e “colaborar com os vários atores da cadeia, como agricultores, indústria alimentar, decisores políticos, entre outros, de modo a serem debatidas abordagens multidisciplinares e mais efetivas”.
Tânia Cordeiro, assessora do Gabinete de Evidência Científica da Ordem dos Nutricionistas, corrobora que o nutricionista “desempenha um papel central na promoção de um sistema alimentar mais sustentável, podendo orientar e adaptar planos alimentares às necessidades individuais e aos estádios de vida, conciliando, assim, a sustentabilidade alimentar na promoção de uma alimentação mais saudável”.
Mas estamos preparados, enquanto sociedade, para mudar a forma como comemos? A resposta é cautelosa, mas otimista. “Temos vindo a dar passos importantes”, reconhece, “mas a transição para hábitos alimentares mais sustentáveis exige mudança de mentalidades, políticas públicas eficazes e maior literacia alimentar”. “Preparar a sociedade para essa mudança implica trabalho conjunto entre todos os atores, nomeadamente decisores políticos, profissionais de saúde e sociedade, aqui o nutricionista é o ator principal como promotor essencial desta mudança comportamental”.
Resumindo, o nutricionista tem a capacidade de ser um agente muito relevante de mudança do sistema. “O caminho será exigente, especialmente porque Portugal é um país com uma forte cultura gastronómica e alimentar, em que ainda subsistem situações de desigualdade e insegurança alimentar”, adverte Teresa Carvalho, que, mesmo assim, vê “sinais positivos”, principalmente entre as gerações mais jovens, que mostram uma maior consciencialização ambiental. “O nutricionista poderá ser o mediador neste caminho de compromisso coletivo e de responsabilidade partilhada entre todos, e que exige uma resposta concerta e urgente”.
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