Revolução alimentar: Vantagens e desafios das dietas do futuro 914

Prós e contras? Desafios. Em entrevista à VIVER SAUDÁVEL, Mayumi Thais Delgado garante que “o futuro da alimentação acaba por ser construído com inovação e consciência”. Assim, opta “por uma abordagem mais construtiva e abrangente, reconhecendo tanto o potencial destas propostas como os obstáculos estruturais, culturais e tecnológicos que ainda necessitam de ser superados para que a sua adoção seja viável”.

A nutricionista especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública sublinha ainda que “estes desafios não são barreiras estáticas, mas realidades em constante evolução. Muitos refletem o estado atual do conhecimento, das infraestruturas ou das normas sociais – fatores que mudam com o tempo, o investimento certo, políticas públicas adequadas e a aceitação gradual por parte dos consumidores”.

“Ao reconhecermos essa dimensão dinâmica, deixamos de ver os desafios como limites intransponíveis e começamos a encará-los como impulsionadores de inovação e aprendizagem coletiva”, remata.

Produtos à base de plantas 

“Ou produtos plant-based, mas que poderíamos chamar de plant based 2.0, isto porque existe cada vez um maior foco em desenvolver produtos com um perfil nutricional equilibrado e clean label, sem descurar o sabor do produto final.

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Vantagens: Redução significativa da pegada ecológica em comparação com proteínas animais; diversidade crescente de opções no mercado; potenciais benefícios para a saúde cardiovascular, principalmente quando incluem produtos formulados com ingredientes naturais e com baixo grau de processamento; compatíveis com dietas veganas e vegetarianas.

Desafios: Necessidade de evolução no sabor e textura em alguns produtos; presença de ingredientes e aditivos indesejáveis ou ultraprocessamento em certas marcas; desafios em garantir o equilíbrio nutricional, especialmente no teor de proteínas e vitamina B12″.

Carne cultivada em laboratório

“Produzida a partir de células animais em ambiente controlado, sem necessidade de abate. Esta carne oferece um perfil nutricional semelhante ao da convencional, mas com menor impacto ambiental.

Vantagens: Mais sustentável do que a de produção pecuária; não necessita de abate animal; não é necessária a administração de antibióticos na sua produção; tem o potencial para se customizar e otimizar o perfil nutricional.

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Desafios: Alto custo de produção; necessidade de regulamentação robusta e permissão de venda em Portugal; perceção negativa dos consumidores à ‘carne de laboratório'”.

Microproteína e fungos filamentares 

“A micoproteína é produzida a partir de fungos e apresenta alto teor proteico e baixo teor de gordura. É fermentada de forma semelhante à produção de cerveja ou iogurte para se obter um produto para consumo.

Vantagens: Ricas em aminoácidos essenciais e fibras; baixo teor de gordura saturada; produção eficiente e baixo impacto ambiental.

Desafios: Sabor e textura nem sempre agradáveis; preço superior ao da proteína vegetal convencional; possibilidade de alergias”.

Micro e macroalgas

“Fontes de proteína, fibras, vitaminas e minerais, as algas são altamente sustentáveis. Crescem rapidamente sem necessidade de fertilizantes ou água doce. Incluem variedades como spirulina (que apesar de ser incluída no grupo das microalgas é, na verdade, uma cianobactéria), chlorella, nori, wakame, entre outras.

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Vantagens: Crescimento rápido e sustentável; perfil nutricional interessante, sendo ricas em ácidos gordos essenciais (principalmente as microalgas), iodo, ferro e diferentes vitaminas; utilizadas em nutracêuticos.

Desafios: Sabor forte pode ser difícil de incorporar; riscos de contaminação com metais pesados se não forem bem controladas as fontes de produção; baixo conhecimento do consumidor”.

Insetos comestíveis (entomofagia)

«Em 2021, a DGAV permitiu para consumo humano 7 espécies de insetos, nomeadamente, 2 tipos de grilo, 2 de gafanhoto, um besouro, a larva/pupo de abelha e o tenébrio (um tipo de larva). Cada qual tem o seu perfil nutricional, mas de forma geral são ricos em proteína, fibra (quitina) e ácidos gordos essenciais e exigem menos recursos naturais para serem produzidos”.

Vantagens: Alta densidade nutricional; menor emissão de gases com efeito de estufa e menor consumo de água e alimento para a sua produção; elevado rendimento por m2.

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Desafios: Rejeição cultural e sensorial; regulamentação ainda incipiente em muitos países; dificuldades de escala industrial; mais estudos de biodisponibilidade dos nutrientes; possibilidade de despoletar alergias”.

 

Parte do artigo “As 5 maiores tendências alimentares (sustentáveis) do futuro”, publicado na edição de #96 da revista VIVER SAUDÁVEL (julho-agosto, 2025).