Estudo da UPorto indica que mulheres menos ativas na gravidez podem ter filhos obesos 801

03 de Março de 2016

Um estudo realizado pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) revela que mulheres menos ativas durante a gravidez têm tendência a ter bebés mais pesados, o que pode ser um indicador de obesidade na vida adulta.

Em depoimentos à “Lusa”, a investigadora Paula Clara Santos, membro do Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) da FADEUP e uma das responsáveis pelo projeto, disse que «uma mulher grávida deve praticar exercício físico de forma moderada a vigorosa, durante 30 minutos, cinco ou mais vezes por semana» para evitar um excessivo ganho ponderal da mãe durante a gravidez e o excesso de peso do bebé.

O estudo que deu origem a este resultado, intitulado “Níveis de actividade física ao longo da gravidez e a sua influência no estado físico e psicológico da mulher, bem como nos parâmetros morfo-funcionais do feto”, dividiu-se em dois períodos, com duas amostras de grávidas.

O primeiro, realizado nos centros de saúde da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), foi constituído por 118 participantes, avaliadas em todos os trimestres, através de questionários para a recolha de dados pessoais, obstétricos e clínicos.
No segundo momento, com auxílio do Hospital São João, avaliaram-se 133 mulheres no primeiro e no segundo trimestre gestacional (10-12 semanas e 20-24 semanas), no período pós-parto – através da acelerómetria e de ecografias, que permitiu obter informações sobre os parâmetros morfo-funcionais da criança -, e quando as crianças fizeram dois anos.

«Sabemos que a atividade física é um fator modificável e determinante para prevenir doenças crónicas não transmissíveis, como é o caso da hipertensão, da diabetes e das doenças cardiovasculares», refere a investigadora, também docente na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto.

A gravidez é um «evento de longa duração que tem consequências durante toda a vida da mulher» e que devia ser encarada como uma oportunidade de alterar os hábitos de atividade física, como se alteram em relação à alimentação, ao tabagismo e ao álcool, acrescenta.

Paula Santos refere ainda que essas mudanças de comportamento deviam ser estimuladas pelos profissionais de saúde, cujas indicações médicas continuam «muito aquém» das normas de orientação clínica recomendadas pelo American College of Sports Medicine (ACSM).

Acredita que o decréscimo da atividade física ao longo da gravidez é provocada «por falta de informação, alguns tabus e ideias pré-concebidas que possam existir em termos culturais» e pela falta de tempo que possa ser dispensado para o exercício.

Este estudo pretende avaliar também a relação entre atividade física e a diabetes gestacional, a hipertensão e o ganho ponderal, a influência da atividade física na auto-estima da mulher e nos níveis de ansiedade e a relação entre atividade/inatividade física materna com os parâmetros morfo-funcionais do feto bem como com o peso, a altura à nascença e o índice de Apgar.

A investigação, iniciada em 2010 e financiada pela Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) em 2012, em cerca de 80 mil euros, foi concluída em 2015, estando agora a ser estudados os resultados obtidos nas diferentes variáveis.

Para além de Paula Santos, colaboraram neste projeto os investigadores Sandra Abreu, Carla Moreira, Rute Santos, Pedro Silva e Jorge Mota, do CIAFEL, Odete Alves, da ULSAM, e Nuno Montenegro, do Hospital São João.

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