Conceição Calhau sobre teste genético: “Permite perceber se a pessoa é ‘coruja’ ou ‘cotovia'” 2721

Depois de ter sido anunciado um novo teste genético português, que analisa 72 genes para personalizar plano de vida saudável, a nutricionista e investigadora Conceição Calhau, coordenadora da licenciatura em Ciências da Nutrição na NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, explicou, à Lusa, a importância de perceber se a pessoa é “coruja” ou “cotovia”.

“Com este tipo de testes conseguimos identificar cronotipos, ou seja, quem é mais cotovia ou mais coruja, quem tem a sua atividade mais cedo ou mais tarde no dia e isso pode ser importante em termos de intervenção alimentar por causa das horas das refeições”, explicou.

Tudo isto, acrescentou, “vai permitir, por exemplo, perceber que quem é cotovia e está a fazer refeições tardias e trabalha à noite, geneticamente não está ajustada”.

O investigador Daniel Luis, que criou o teste, lembrou também que, com uma simples recolha de células do interior da bochecha, feita com uma espécie de cotonete, é possível perceber se as pessoas metabolizam a cafeína mais rapidamente ou mais lentamente, o que tem um efeito na ansiedade.

Segundo explicou, o teste é inovador porque permite cruzar o contributo de vários marcadores genéticos para uma determinada característica: “Nós utilizamos um algoritmo para somar o contributo de vários marcadores genéticos para uma determinada característica”.

“Por exemplo, existem vários marcadores que estão implicados na predisposição para um índice de massa corporal elevado (…). As características humanas dependem de múltiplas regiões do DNA. Eu não posso olhar só para um gene e dizer com base nesse resultado que a pessoa tem predisposição para ter um índice de massa corporal elevado” acrescentou.

Reconhecendo que há estratégias de perda de peso que podem funcionar genericamente para todos, como a restrição da ingestão calórica e o exercício físico, o investigador disse que com este teste, que se faz apenas uma vez na vida, se consegue definir exatamente qual o plano que funciona melhor para determinado perfil genético.

A equipa desenvolveu ainda uma aplicação com a qual, a partir de um telemóvel, a pessoa pode ter acesso aos seus dados e a uma lista de alimentos passível de ser consultada, por exemplo, quando se vai às compras, para escolher com mais facilidade os alimentos mais ajustados ao seu perfil e que podem trazer mais benefícios.

Questionada pela Lusa sobre a importância de conhecer a genética para a adoção de um determinado tipo de alimentação, a investigadora Conceição Calhau deu o exemplo do teste do pezinho, que se faz à nascença, “em que um erro genético dita a necessidade de fazer uma alimentação sem fenelanina durante pelo menos os primeiros anos ou na infância”.

A investigadora disse que os estilos de vida influenciam – “como quando temos um carro e o tratamos bem ou não, ou se fazemos as revisões na marca” -, mas que é importante conhecer os genes de cada um para ajustar prioridades e estratégias.

Estas intervenções personalizadas “só se podem imaginar conhecendo todas as variáveis de uma pessoa, conhecendo os seus genes, as suas peças”, afirmou.

Conceição Calhau frisou ainda que “estes testes são importantes não só na medicina personalizada, mas também na área da medicina preventiva”: “É a prevenção que vai dar a sobrevivência do Serviço Nacional de Saúde”.

“Ter um bom envelhecimento não é ter as pessoas mais anos com medicação, mas sim evitar que adoeçam. Quando ficam doentes, é sempre o estilo de vida que não está ajustado à maquinaria de cada um, aos genes”, acrescenta.

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