O fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) prestou assistência nutricional “essencial” a cerca de 400 mil crianças, desde 2020, nas zonas afetadas pelo ciclone Idai, na província de Sofala, centro de Moçambique.
De acordo com uma nota daquele fundo das Nações Unidas, a que a Lusa teve acesso, o programa “Melhorar a Nutrição Infantil e Fortalecer a Resiliência em Áreas Afetadas por Ciclones em Moçambique”, permitiu alcançar, em seis anos, aproximadamente 400 mil crianças com serviços essenciais de nutrição, reduzindo para 35% os níveis de desnutrição crónica severa em crianças menores de cinco anos naquela província.
A redução dos casos de desnutrição advém, segundo a Unicef, de “intervenções integradas” nas áreas de saúde, nutrição, higiene e saneamento, o que resultou na melhoria das condições de vida das crianças.
O projeto, que contou com a colaboração do Governo moçambicano e da União Europeia (UE), também reduziu os casos de tosse, em 8%, e febre infantil, em 14,7%, refletindo, segundo a Unicef, uma integração mais forte das intervenções de saúde, nutrição e higiene.
“Além disso, registou-se um aumento de 4% no conhecimento e envolvimento dos cuidadores nas práticas de estimulação infantil, associado à mudança social de comportamento e abordagem das famílias modelo”, refere-se.
No domínio de saneamento e higiene, a agência da ONU explica que, no mesmo período, acima de duas mil comunidades ficaram livres de fecalismo a céu aberto, beneficiando mais de 780 mil residentes, reduzindo essa prática de 46% para 31%, e promovendo uma forte adoção de práticas de higiene seguras.
“Resultados adicionais incluem um aumento de 20% no acesso ao saneamento básico nas áreas alvo. Também houve uma melhoria na diversidade alimentar das famílias e crianças, com um aumento de 24% e 33%, respetivamente”, acrescenta-se.
Para Mary Eagleton, representante da Unicef em Moçambique, com a implementação do programa, as crianças naquela província têm agora mais oportunidades de crescer com saúde, e as famílias estão mais preparadas para prevenir doenças evitáveis e promover hábitos de higiene.
O embaixador da UE no país, Antonino Maggiore, também citado no documento, considerou que os resultados demonstram que intervenções integradas e baseadas em evidências geram impactos reais e duradouros.
Em novembro, o Governo moçambicano avançou que mais de 117 mil menores moçambicanos, com idades até aos 2 anos, beneficiam de subsídio do Estado, para reduzir a taxa de desnutrição crónica em crianças até aos 5 anos.
De acordo com o secretário de Estado de Género e Ação Social, Abdul Esmail, a execução deste programa visa contribuir para a redução da desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos, “que atualmente situa-se em 37% no país”.
A primeira-ministra moçambicana, Benvinda Levi, disse, em agosto, que os níveis de desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos reduziram-se seis pontos percentuais em 10 anos, para 37% em 2023, prevalecendo entre as causas os desastres naturais “intensos e cíclicos”.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.




