“A visão que os estudantes têm do método de avaliação difere daquela que é a realidade” 2539

Maria Velosa, de 21 anos, estudante do 4.º ano da licenciatura em Ciências da Nutrição, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi eleita recentemente presidente da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição. Em entrevista exclusiva à Viver Saudável, a jovem, além de explicar o seu percurso, falou sobre quais são os objetivos da federação que agora lidera para o próximo mandato, sem descurar alguns dos temas mais prementes da atualidade da nutrição em Portugal.

Madeirense de gema, tendo vivido “toda a vida” na ilha da Madeira, Maria Velosa vive sozinha em Lisboa desde que iniciou o percurso no Ensino Superior. Foi também, pouco tempo depois de completar um ano no curso, que surgiu a paixão recente do associativismo, “entre o primeiro e o segundo ano” da licenciatura. Nos primeiros dois mandatos dos quais fez parte, a estudante fez parte do Departamento de Política e Relações Externas, onde, “apesar de não fazer parte do núcleo de gestão”, conseguiu adquirir um “grande conhecimento da federação”. Isto porque, segundo a própria, o departamento em que estava inserida tinha “uma relação muito próxima com a presidência e com as entidades parceiras, o que foi muito vantajoso”. Tudo isto culminou, ao terceiro ano e mandato, com o aceitar do desafio de ser presidente da ANEN.

Tornar próxima uma ANEN… que não conhecia

Assim, importa saber, junto da recém eleita representante dos jovens estudantes de nutrição, quais as bandeiras da ANEN para o próximo mandato, sendo que Maria Velosa destacou desde logo o facto de ainda estarem presentes na sua lista “muitas pessoas que já estavam na associação no primeiro ano” em que a agora presidente fez parte. Assim, um dos principais pilares, desde essa altura e que se mantém ainda bem vincado atualmente, é o “chegar mais próximo dos estudantes”. Até porque, confessa a responsável da ANEN, quando foi convidada a integrar o projeto… “nem sabia o que era a ANEN”.

“Era uma associação que estava muito longe dos seus estudantes e, durante estes dois anos, dos quais eu fiz parte, houve um crescimento muito marcado do nosso projeto, que tinha como objetivo consolidar esse mesmo crescimento. O nosso objetivo é aprimorar aquelas que queremos que sejam as principais atividades, como o Encontro Nacional de Estudantes de Nutrição, porque queremos continuar a melhorar e aproximarmo-nos das expetativas dos estudantes”, referiu Maria Velosa, sem esquecer que a ANEN quer “criar mais vagas no seu programa de estágios”. “Sabemos que um dos desejos mais fortes dos estudantes é ter um maior contacto com a prática profissional. E, também por isso, queremos ainda introduzir uma componente internacional, em colaboração com as nossas entidades estrangeiras”, acrescentou.

Frisando que existe também o propósito de “aumentar a componente de convívio em determinadas atividades”, bem como “desenvolver o interesse dos estudantes na ligação à sociedade”, Maria Velosa não esquece quem já passou pela ANEN, pretendendo manter um “elo de ligação” com antigos dirigentes. “Pode ajudar-nos a criar uma rede de contactos sólida e a concretizar as nossas a atividades. E também, de alguma forma, permitir que os dirigentes que por cá passaram continuem a dar o seu contributo à associação”, explicou.

“Pretendemos também criar uma revista anual, tendo como objetivo um registo, que será transmitido de uma forma mais informal aos estudantes. Terá os principais marcos e conquistas de cada mandato”, disse ainda.

Estudantes com visão diferente da academia

Maria Velosa chega à presidência da ANEN já com dois anos de bagagem na associação e com experiência na lidação com os estudantes, as suas dúvidas ou as suas aflições. Mas, afinal, o que preocupa os jovens que serão os nutricionistas de amanhã? “Os estudantes demonstram desejo de um maior contacto com a prática, uma noção que já tínhamos. E, em sede de Assembleia Geral, conseguimos aprovar o posicionamento da ANEN de que os estudantes consideram que seria pertinente haver uma alternativa ao estágio de acesso à profissão. Isto, com a aprovação dos novos estatutos será, em princípio, uma realidade”, afirmou.

No entanto, há ainda outra questão que assola a mente dos estudantes e que é anterior à prática profissional. Ou seja, é mesmo aquela com a qual lidam todos os dias: os estudos. Segundo a presidente da ANEN, “a visão que os estudantes têm do método de avaliação mais adequado, difere um pouco daquela que é a realidade”. E explicou: “Assistimos a licenciaturas com métodos de avaliação muito centrados na avaliação final, por exame. Os estudantes consideram que seria mais benéfico, ou mais adequado, que existisse uma avaliação de forma mais contínua”.

Bastonária, estatutos e desejos de ano novo

Apontando depois aos temas da atualidade, questionámos Maria Velosa, por exemplo, sobre a nova bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Liliana Sousa, alguém com quem já teve “oportunidade de falar, mas ainda sem chance de marcar uma reunião”. No entanto, explica a presidente da ANEN, a federação tem em comum com a nova representante dos nutricionistas algo que identificou logo na campanha eleitoral: “A Dra. Liliana Sousa considera como uma possibilidade a eliminação do estágio de acesso à profissão, algo que a ANEN também defende”.

A responsável da Associação Nacional de Estudantes de Nutrição reforçou a ideia, destacando o facto de a bastonária “considerar a eliminação do estágio, caso não se verifiquem as condições necessárias à remuneração”, algo que têm, mais uma vez, em “comum”. Maria Velosa, destaca ainda, ressalvando que a medida foi defendida por ambas as candidatas ao cargo de bastonária, ou seja, Liliana Sousa e Bárbara Beleza, o facto de a bastonária “ter reconhecia a importância da proposta de um internato em nutrição, algo que foi também sugerido pela ANEN no mandato anterior, como uma estratégia importante para a integração de jovens nutricionistas na discussão de assuntos estratégicos”.

A questão das revisões dos estatutos das Associações Públicas Profissionais causou bastante polémica, transversal a várias classes profissionais, e, no caso dos nutricionistas, a estudante na Faculdade de Medicina de Lisboa destaca um ponto sobre o qual a ANEN espera para ver. “Estamos expectantes relativamente à introdução de um período formativo de seis meses em alternativa ao estágio de acesso à profissão. No entanto, aguardamos uma definição mais clara do seu funcionamento e, também, da sua avaliação. Mas, relativamente ao estágio em si, consideramos uma mais-valia este ser de remuneração obrigatória, mas manifestámos alguma preocupação relativamente às possibilidades de retenção de recém licenciados. No entanto, já percebemos que este é um assunto para o qual a senhora bastonária está sensibilizada, e consideramos que é uma questão interessante”, acrescentou.

“Em relação às competências e ao Ato do Nutricionista, consideramos que esta definição é um bom primeiro passo, mas consideramos que é fundamental uma reflexão e uma definição mais alargadas. É preciso reconhecer que a formação do nutricionistas inclui muito mais competências do que aquelas que são neste momento enumeradas, e garantir que não ocorre uma usurpação de funções por outros profissionais, ou mesmo por pessoas que não estejam necessariamente capacitadas para o exercício destes atos ou destas competências mais alargadas. Temos de garantir a qualidade de acesso aos serviços por parte dos cidadãos. Consideramos um bom primeiro passo, mas é preciso definir melhor”, disse a presidente da ANEN.

Sobre o que pretende ou gostaria de ver feito em 2024, Maria Velosa reforçou: “O acesso à profissão é algo que tem gerado muitas dúvidas e alguma preocupação nos estudantes. Por isso, acho que esta abertura à inclusão de um período formativo como alternativa ao estágio de acesso à profissão, poderá ser algo que trará alguma esperança e tranquilidade aos estudantes e também aos recém licenciados”.

 

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