Sustentabilidade à mesa: A carne ainda tem lugar (privilegiado)? 1016

Reduzir o consumo de carne, especialmente a carne vermelha, tem sido uma das bandeiras mais visíveis da alimentação sustentável. Mas será esta medida suficiente para garantir um futuro alimentar mais equilibrado e amigo do ambiente?

“A redução do consumo de carne e produtos cárneos, em especial de carne vermelha, é geralmente apontada como uma das estratégias para uma alimentação mais saudável e sustentável, sendo clara a evidência nesse sentido”, afirma Teresa Carvalho, coordenadora da Knowledge Division da PortugalFoods.

Todavia, esta é apenas uma peça de um puzzle complexo: “Esta medida não é, por si só, suficiente para garantir a transição para um sistema alimentar mais sustentável, sendo fundamental uma abordagem sistémica”.

Ou seja, reduzir carne é um passo, mas não chega. É preciso mudar o prato… e a forma de pensar. A população “consome uma quantidade de carne e carne vermelha muito superior ao necessário”, observa. Por outro lado, verifica-se “um baixo consumo de alimentos fundamentais como, por exemplo, os hortofrutícolas e as leguminosas”.

Deste modo, “mais do que diminuir o consumo de carne ou de proteínas animais, é importante garantir um adequado equilíbrio nutricional e o respeito pela sazonalidade e origem, promovendo-se a economia local e a ligação com os produtores”. O caminho passa também por optar por produtos com menor nível de processamento e menos embalagens, área onde “as empresas têm vindo a fazer um grande trabalho de redução de embalagens e do uso de plástico”.

Alimentação do futuro, Nutrição nos Açores e Congresso APN na VIVER SAUDÁVEL #96

Mas há outros pontos críticos: assistimos ainda a uma baixa adoção de modelos de negócio circulares e a um elevado desperdício alimentar que apresenta um impacto muito considerável em termos ambientais. “É fundamental que haja uma maior sensibilização do consumidor e dos demais atores para este tema”, sublinha a nutricionista. Os modos de produção regenerativos são também uma forma de contribuir para a biodiversidade e melhoria dos solos, reduzindo-se os sistemas de culturas intensivas e o uso de fertilizantes agrícolas, que agravam o impacto ambiental.

Esta alteração do comportamento alimentar para a adoção de hábitos mais saudáveis e sustentáveis “requer que haja muita literacia ao consumidor”, para que este “repense todo o seu consumo e valorize os alimentos e os produtores”, indica Teresa Carvalho. “O sector agroalimentar será um dos principais sectores a ser afetado pelas alterações climáticas, aliás, já estamos a sentir os efeitos das mesmas.

Os profissionais de saúde e os nutricionistas serão fundamentais para ajudar o consumidor a fazer escolhas informadas, económicas, sustentáveis e culturalmente adequadas”.

 

Parte de artigo originalmente publicado edição #96 da revista VIVER SAUDÁVEL.