Profissionais de saúde LGBTQ+ enfrentam discriminação no trabalho 318

Quase metade dos profissionais de saúde LGBTQ+ sofreu ou presenciou situações de discriminação no local de trabalho, concluiu um estudo baseado num inquérito nacional que foi hoje divulgado.

O estudo foi realizado no âmbito do projeto PULSAR – O papel de profissionais LGBTQ+ para uma saúde inclusiva, desenvolvido no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

Coordenado pela investigadora Mara Pieri e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o estudo teve a participação de 178 profissionais de saúde, entre enfermeiros (27%), médicos especialistas (23%), médicos internos (21%) e técnicos de várias áreas (17%).

Segundo o CES, “os resultados mostram que a discriminação continua presente no quotidiano de muitos profissionais de saúde LGBTQ+, com impacto direto no seu bem-estar e na qualidade do ambiente de trabalho”, cita a agência Lusa.

Uma das principais conclusões do inquérito foi que 47% dos participantes “afirmam ter sofrido discriminação pelo menos uma vez no contexto profissional”, tendo sido “relatados episódios de ameaças, insultos e comentários homo ou transfóbicos, bem como impedimentos de exercer determinadas funções”. Por exemplo, um enfermeiro gay “foi proibido de cuidar de jovens do sexo masculino”.

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Mesmo não as tendo sofrido, 49% dos profissionais contaram “ter presenciado situações de discriminação praticadas por outros colegas” e 83% ouviram “piadas homofóbicas ou ofensivas no local de trabalho”.

O CES referiu ainda que, “mesmo quando não há revelação da orientação sexual ou identidade de género, o preconceito manifesta-se em comentários dirigidos a terceiros”.

Este estudo concluiu que 53% dos profissionais “consideram que ser LGBTQ+ é uma fonte de stress no trabalho” e apontam “o preconceito, a ignorância e a falta de formação sobre estas temáticas como fatores que agravam o desgaste emocional”.

Neste âmbito, “73% defendem que é urgente investir em formação específica sobre questões LGBTQ+ para todos os profissionais de saúde”, até porque, de acordo com mais de metade deles, “o seu local de trabalho não está preparado para lidar com utentes LGBTQ+”.

“Existem muitos obstáculos para que as pessoas LGBTQ+ se sintam bem no trabalho. No caso dos profissionais de saúde, o stress decorrente da discriminação tem um grande impacto na saúde mental”, sublinhou Mara Pieri.

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De acordo com a investigadora, “a maioria dos participantes nunca revelou a sua identidade a utentes ou doentes”.

“Essa invisibilidade faz com que se pense que não existem profissionais LGBTQ+ no setor da saúde e, por consequência, que não é necessário agir para promover inclusão – o que afeta tanto os profissionais como os utentes LGBTQ+”, acrescentou.