ON defende suspensão de novos cursos de Nutrição até reavaliação nacional 1695

A Ordem dos Nutricionistas (ON) defende a suspensão de novos cursos de Nutrição, até que esteja garantida uma “avaliação rigorosa da formação atualmente existente e das reais necessidades do país”.

Em conjunto com a Associação Nacional de Estudantes de Nutrição (ANEN) e a Comissão de Jovens Nutricionistas (CJN), a ON informa em comunicado que remeteu à A3ES, à Presidência da República, ao primeiro-ministro, à ministra da Saúde, ao ministro da Educação, Ciência e Inovação, à ministra da Juventude, Cultura e Desporto e ao presidente da Assembleia da República “um posicionamento relativo à criação de novos ciclos de estudo conducentes ao grau de licenciado em Ciências da Nutrição ou em Dietética e Nutrição, com especial preocupação face à sua organização em regime exclusivamente à distância”.

Este posicionamento “decorre das atribuições da Ordem enquanto entidade reguladora da profissão de nutricionista, designadamente no que se refere à garantia da qualidade da formação que dá acesso à profissão e à proteção do interesse público na área da saúde”, lê-se ainda.

“Degradação da empregabilidade”

Existem atualmente 19 instituições de Ensino Superior reconhecidas para efeitos de inscrição na Ordem dos Nutricionistas, o que, de acordo com a Associação Pública Profissional, se traduz num “aumento da oferta formativa sem que exista um planeamento estratégico nacional adequado”.

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Como consequência, considera, existem hoje maiores “dificuldades de integração profissional dos recém-licenciados” e “degradação da empregabilidade e aumento da emigração”, bem como uma “crescente desmotivação dos estudantes e abandono da profissão”.

De acordo com dados recentes da ANEN, “36,8% dos estudantes ponderam abandonar o curso por falta de motivação e 72% manifestam insatisfação com a escassa componente prática”. A aposta em modelos de ensino à distância “pode agravar ainda mais esta realidade, afastando os estudantes de contextos reais de aprendizagem e comprometendo a aquisição de competências essenciais”.

A Ordem recorda que a formação nesta área “deve permitir o desenvolvimento de competências técnicas e humanas fundamentais, como a empatia, o pensamento crítico e a capacidade de decisão clínica”. É por isso “imperativo assegurar a existência de prática laboratorial e clínica supervisionada, contacto direto com o utente, e trabalho em equipas multidisciplinares”.

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“Estamos perante uma profissão da saúde, independentemente do contexto ou local de exercício, que lida diariamente com decisões que influenciam a saúde, a qualidade de vida e até a sobrevivência de pessoas em diferentes fases do ciclo de vida”, lembra a ON. Neste sentido, reitera que “a formação dos futuros nutricionistas deve assegurar padrões elevados de exigência e qualidade”.

Medidas concretas e urgentes

Para fazer face ao problema, a ON defende a adoção de “medidas concretas e urgentes”, em particular a “suspensão da abertura de novos ciclos de estudo conducentes à profissão de nutricionista”, até que seja realizada “uma avaliação rigorosa da formação atualmente existente e das reais necessidades do país”.

Pede-se ainda a “definição de critérios mínimos obrigatórios para o funcionamento das licenciaturas, garantindo a existência de uma componente presencial robusta e de prática supervisionada em contexto clínico, comunitário, de investigação, entre outros”.

Finalmente, procura uma “valorização da qualidade pedagógica e técnico-científica da formação académica, bem como da empregabilidade, como critérios centrais na avaliação dos ciclos de estudo”.

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Uma vez que “o futuro da profissão exige uma abordagem responsável, articulada e centrada no interesse dos utentes e dos profissionais”, a ON “reafirma o seu compromisso com a qualidade da formação, a dignificação da profissão de nutricionista e a defesa da saúde pública”.