OMS vê progresso na luta contra o tabaco apesar da interferência da indústria 566

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou esta segunda-feira (23) os progressos alcançados nos últimos 20 anos no combate ao tabagismo, mas alertou para a “crescente interferência” da indústria para neutralizar as políticas de controlo e prevenção.

A posição da OMS consta do relatório Epidemia Global do Tabaco de 2025, que concluiu que os avanços mais significativos resultaram das advertências para a saúde, por vezes muito gráficas, incluídas nos rótulos dos produtos ou em campanhas mediáticas, que tornam “os malefícios do tabaco impossíveis de ignorar”, cita a Lusa.

Atualmente, 110 países exigem avisos sobre os malefícios para saúde do consumo de tabaco – mais 101 do que em 2007 –, uma medida que ajuda a proteger 62% da população mundial, adiantou o documento.

Esta medida junta-se a outras cinco incluídas na Convenção-Quadro para o Controlo do Tabaco (CQCT), através da qual a OMS compara a evolução entre 2007 e 2023 de um problema de saúde que causa mais de sete milhões de mortes por ano em todo o mundo.

Além dos alertas, a OMS propõe, numa lista denominada MPOWER, “monitorizar o uso do tabaco e as políticas de prevenção, proteger a população do fumo do tabaco, oferecer ajuda para deixar de fumar, impor proibições à publicidade, promoção e patrocínio do tabaco e aumentar os impostos” sobre esses produtos.

Estudo avalia risco de exceder limites de segurança de metais tóxicos e iodo pelo consumo de macroalgas e halófitas em Portugal

O relatório apresentado ontem em Dublin, na Irlanda, refere que 155 países implementaram pelo menos uma destas seis medidas desde 2007, enquanto mais de 6,1 mil milhões de pessoas — cerca de 75% da população mundial — “estão protegidas por pelo menos” uma, em comparação com mil milhões de há 20 anos.

Quatro países — Brasil, Maurícias, Países Baixos e Turquia — adotaram totalmente o MPOWER, enquanto Espanha, Irlanda, Etiópia, Jordânia, Eslovénia e Nova Zelândia estão a uma medida de atingir “o nível mais elevado de controlo do tabaco”, de acordo com o estudo.

No entanto, existem “lacunas significativas” nesta matéria, lamentou a OMS, dado que 40 países ainda não têm uma única medida MPOWER adotada e mais de 30 permitem a venda de cigarros sem as advertências sanitárias obrigatórias.

O Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, realçou que, 20 anos após a adoção da CQCT, existem “muitos sucessos a celebrar”, mas observou que “a indústria do tabaco continua a evoluir”.

“Nós também devemos evoluir. Ao unir a ciência, as políticas e a vontade política, podemos criar um mundo onde o tabaco não ceife mais vidas, prejudique economias ou roube futuros. Juntos, podemos acabar com a epidemia do tabaco”, salientou o responsável da organização.

Batalha: Evento promove hábitos saudáveis de saúde

No seu relatório, a OMS detetou uma “tendência crescente” na atenção aos cigarros eletrónicos e aos dispositivos de vaporização, dado que o número de países que os regulam ou proíbem aumentou de 122 em 2022 para 133 em 2024, em comparação com 60 que ainda não têm qualquer regulamentação.

A OMS constatou ainda que, “apesar da sua eficácia”, 110 países não realizaram campanhas antitabagismo desde 2022 e, por isso, instou as autoridades a investirem em projetos com mensagens “avaliadas e verificadas”.

Outras das áreas do MPOWER que apresentaram progressos incluem a tributação, a assistência para a cessação tabágica e a proibição de publicidade, embora o relatório tenha enfatizado a necessidade de melhorias.

Cerca de 134 países não conseguiram tornar os cigarros menos acessíveis aos consumidores, enquanto apenas três países aumentaram os impostos sobre o tabaco para níveis de “prática recomendada” desde 2022.

Em relação ao apoio ao combate à dependência da nicotina, apenas 33% da população mundial tem acesso a serviços gratuitos para a cessação tabágica, de acordo com o documento, que enfatiza ainda a exposição ao fumo do tabaco entre os não fumadores, que causa anualmente cerca de 1,3 milhões de mortes.