Plantas, insetos, carne de laboratório, microproteína e microalgas são o futuro da alimentação sustentável. Motivos: a necessidade de abrandar o impacto ambiental da produção alimentar, a inovação tecnológica e as mudanças no comportamento do consumidor.
Poderá um inseto ser bem aceite para o consumo, assim como o é uma vaca ou um porco? A resposta é sim, de preferência, caso seja “invisível”, como vamos perceber mais à frente. A necessidade de abrandar o impacto ambiental da produção alimentar, aliada à inovação tecnológica e as mudanças no comportamento do consumidor fizeram despertar outras tendências alimentares sustentáveis, como plantas, carne de laboratório, microproteína e microalgas.
O exemplo em casa
A nutricionista Mayumi Thais Delgado, especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública, aproveita para contar “uma história pessoal deliciosa”. “Na minha casa, desde sempre que gosto de proporcionar o contacto com estas novas formas de alimentação assim que possível. E a minha filha, com apenas cinco anos, adorava comer aquilo a que carinhosamente chamava de ‘cobrinhas’ — ou seja, os pequenos snacks crocantes de insetos, e que me pedia com a naturalidade de quem pede uma bolacha ou gomas”, revela.
Para a criança, não havia estranheza, nem repulsa, nem qualquer carga cultural associada. “Era apenas algo saboroso e divertido, parte da sua descoberta do mundo. Já comigo e com o mais velho foi necessário ultrapassar esse bloqueio cultural quase instintivo. Mas, com o tempo superámos os nossos filtros e aceitámos o sabor agradável que estes snacks têm”, conta.
“Curiosamente, observar a leveza com que a minha filha os consumia fez-me refletir sobre como muito daquilo que rejeitamos à mesa é fruto da cultura em que crescemos”, acrescenta.
Num país onde é perfeitamente aceitável comer caracóis, camarões, percebes ou lapas – todos eles animais de aspeto peculiar, com texturas singulares e, muitas vezes, consumidos com as mãos, o que os torna “normais”, porque são os outros vistos como estranhos?
A resposta está menos no alimento em si e mais na história cultural que o envolve. “Como sabemos, muitas das nossas resistências alimentares são construções culturais aprendidas com o tempo. As crianças, com a sua curiosidade natural e ausência de preconceitos mostram-nos que o futuro da alimentação pode ser muito mais aberto, exploratório e, neste caso, sustentável”, refere a nutricionista.
Parte do artigo “As 5 maiores tendências alimentares (sustentáveis) do futuro”, publicado na edição de #96 da revista VIVER SAUDÁVEL (julho-agosto, 2025).




