Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto das Alterações Climáticas, na Alemanha, garante que “não há como limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius nem combater a perda de biodiversidade sem a transformação do sistema alimentar”.
De acordo com o segundo relatório da Comissão EAT da revista científica Lancet sobre Sistemas Alimentares Saudáveis, Sustentáveis e Justos, publicado na passada sexta-feira (03), é impossível cumprir o Acordo de Paris se não transformarmos globalmente o nosso sistema de produção alimentar, o que pressupõe uma redução do consumo de carne e açúcares para metade e a duplicação do consumo de frutos secos, legumes e fruta.
“São conclusões muito sombrias”, garante o especialista, citado pelo Público, para quem a mudança de hábitos se traduz numa “pré-condição para termos hipóteses de regressar a um clima seguro e a um planeta saudável”.
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Os resultados do estudo reafirmam as conclusões da primeira versão (2019), que contou com uma “intensa campanha de desinformação por propor a redução do consumo de carne”, lembra o Público. A Fundação Changing Markets, que reúne várias organizações não governamentais, denunciou há cerca de duas semanas o trabalho de uma agência de relações públicas (Red Flag), que “tem como cliente a Aliança da Agricultura Animal, que representa os maiores produtores de carne mundiais”, acrescentou o jornal na edição de sexta-feira.
“Não é uma dieta de privação”
Para Walter Willet, co-secretário da Comissão EAT e professor de Nutrição na Universidade de Harvard, a aposta deve estar numa dieta boa para o planeta e para a saúde. “Não é uma dieta de privação, é deliciosa e saudável, e pode ser adaptada a todas as culturas e preferências”, diz.
Para preencher as necessidades diárias de proteína é necessária uma maior aposta na fruta, nos frutos secos e nos legumes, onde se incluem as leguminosas como o feijão e a soja. Já o consumo de carne não precisa de ser retirado da dieta, mas sim reduzido.
A dieta proposta continua a permitir o consumo de carnes vermelhas (15 gramas por dia, ou uma porção por semana), aves (30g por dia, ou duas doses por semana), peixe e marisco (duas porções de 100g por semana) e produtos lácteos (250g por dia em leite ou produtos derivados).
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“Para quem vive na nações mais ricas, isto poderá implicar uma redução na proteína animal, mas para 3700 milhões de pessoas, cerca de metade dos habitantes da Terra, é uma dieta mais rica e saudável do que aquela a que têm acesso”, conclui o Público.
A produção alimentar representa 30% das emissões que intensificam os efeitos de estufa, o que contribui para o aquecimento global.




